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Júlio Marques 75 JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M GRACIOSO –Cultura não é uma coisa estática, ela evolui, é dinâmica. Esses 30 mil novos funcionários, vindos de outras culturas, devem ter contribuído para mudar a própria cultura do Bra- desco, que seria hoje, de certa forma, o resultado do amálgama de quatro ou cinco focos diferentes. JÚLIO – Isso é absolutamente verda- deiro. Claro que essa oxigenação é possível sem mudar os princípios e os valores centrais da empresa, aquilo que chamo de “alma”.Você nãomuda a alma, mas tem de atualizar essas questões – e isso acontece dentro da alma. GRACIOSO – Certa vez, escrevi um artigo para a edição Melhores e Maiores, de Exame , cruzando dados das 500 maiores empresas com os das 100 melhores para se trabalhar. Encontrei coisas curiosas e uma delas foi que, na média de todas as 100 melhores empresas para se trabalhar, a remuneração variável correspondia apenas a 26%. O Bradesco tem por norma pagar uma parte da remu- neração em bases variáveis, o que significa que a performance é avaliada continuamente em função dela? JÚLIO – O Bradesco já teve um programa de bônus, mas suspendeu. Exceto em algumas áreas, como, por exemplo, o Invest Bank, que é uma área muito específica em que o mer- cado todo age por bonificação. Oque o Bradesco procura é proporcionar a oportunidade de o funcionário crescer na carreiranamedida emquedemons- tre o seu desempenho. A bonificação foi uma coisa que o banco cortou, porque as pessoas vendiam mal os produtos, pensando, quase que exclu- sivamente no bônus. JRWP – Uma certa incompatibilidade entre o tipo de produto e a recom- pensa. GRACIOSO –Tenho umneto de vinte e poucos anos que está estagiando num grande banco estrangeiro aqui no Brasil, e está fascinado pelomundo novo com o qual está se deparando. Outro dia, me disse: “olha, tem trainee um pouco mais velho do que eu, que indicou um grande negócio e ele re- cebeu um bônus fabuloso”. Acho que isso é prejudicial. JRWP – Essa nossa civilização internet – ou pelo menos essa fase da internet, da NASDAQ – é prejudicial, se pen- sarmos nas fortunas feitas da noite para o dia. JÚLIO – Essa onda da Google, em- presas que nascem do nada e vi- ram bilionárias da noite para o dia, propiciando recompensas fora de propósito. JRWP – O Sr. Amador Aguiar teria estranhado tudo isso. GRACIOSO – Júlio, estamos tocando num ponto importante, pois o Bra- desco confia na sua cultura, nos seus compromissos com os funcionários a longo prazo, paramotivá-los emanter aqueles que merecem ser mantidos. JÚLIO – E é por isso que, no começo da nossa conversa, me referi à “alma da empresa”. Toda empresa tem uma alma e acho que entre os bancos, o Bradesco tem uma que é diferente da dos outros. JRWP – Espero que nossos alunos e professores leiam essa entrevista com muita atenção. O BRADESCO JÁ TEVE UM PROGRAMA DE BÔ- NUS, MAS SUSPENDEU. ES PM

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