Revista da ESPM JUL-AGO_2009
Gentil Choji Nishioka julho / agosto de 2009 – R e v i s t a d a E S P M 101 acima dos limites tolerados, o café passoua ser torradoatéacarbonização, resultando no conhecido pó escuro e na tradicional bebida densa e escura. O café de qualidade, com coloração mais clara, geralmente é denominado “chafé” e desprezado. Os tipos e dosagens de aditivos conservantes usados nos alimen- tos perecíveis, para garantir o seu prazo de validade, ou a “shelf-life” também são regulamentados por lei. Maior “shelf-life” pode ser con- seguida com muita P&D, melhor embalagem, melhor logística, mais tecnologia e/ou mais conservante. Mais tecnologia pode significar mais “shelf-life”, porém pode au- mentar custos. Em curto prazo, mais conservante químico pode ser a solução, entretanto, pode causar danos à saúde do consumidor. Os agrotóxicos aplicados na produção de frutas, verduras, cereais e grãos são, atualmente, denominados defensivos agrícolas, numa “jogada” de marke- ting. O seu uso também é limitado por lei, devido aos comprovados da- nos à saúde dos consumidores e dos trabalhadores rurais, e ao ambiente. A produção, quase artesanal, desses mesmos produtos, sem defensivos, está sendo expandida no país, porém seus custos são altos e os preços são, ainda, proibitivos. Por um lado, a soja transgênica é atacada por alguns ambientalistas, por seus alegados potenciais danos à saúde do consumidor, apesar de sua maior produtividade comparada com a soja tradicional. Por outro lado, defensivos agrícolas, comprovadamente danosos à saúde, pelo seu efeito cumulativo nos organismos dos consumidores, permanecem em uso. Um caso raríssimo de respeito aos princípios ocorreu numa empresa, no setor de sucos industrializados. Esse fabricante, por princípio, não admite a utilização de qualquer defensivo agrícola, pelo seu efeito nocivo à saú- de e à qualidade do produto. Ele não teve senão a alternativa de verticalizar, totalmente, a sua produção no país, iniciando pela plantação das frutas, de modo totalmente orgânico. Essa decisão postergou, por vários anos, o início da produção de seus sucos no Brasil. O excedente da safra de frutas é exportado. O preço desse suco é bem mais caro,masoconsumidor conscien- teacostumou-seapagar pelaqualidade percebida e reconhecida. O fornecimento de um produto que não atenda à especificação legal é crime, queocorre frequentemente,mas é raramente fiscalizado e, dificilmente, punido. Se a lei vigente não é obede- cida e a impunidade persiste, qual é o espaço da ética? A bioética Aproduçãode carnes bovina, suína ou de aves, é definida esquematicamente como um processo de transformação de proteína vegetal em animal. O insumo é x quilogramas de ração mais suplementos alimentares, e o produto é y quilogramas de carne. Ameta con- tinuamente buscada é diminuir o custo do insumo e aumentar a quantidade de produto. O papel da biotecnologia é aumentar a eficiência do processo e reduzir o custo do quilo da carne. Como ilustração considera-se a mo- derna produção de frangos. Nas mo- dernas granjas, o espaço para a sua movimentação é reduzido, para que ele utilize toda energia para engordar, e para que haja maior produção de car- ne por metro quadrado. A iluminação artificial é estendida no período notur- nopara que ele continue a se alimentar e perca menos tempo dormindo. Ele é abatido no momento exato em que o alimento fornecido maximizou a engorda. A partir desse momento, o incremento do alimento não se traduz em aumento da carne, portanto o pro- cesso torna-se antieconômico. Como os ossos, cartilagens, bicos e patas são resíduos demenor valor agre- gado, quando a ave é comercializada empedaços, abiotecnologiaéutilizada para reduzir opesoe volumedos ossos. No limite, imagina-seque essas granjas venham a se compor de grandes tan- ques de ração líquida, para a cultura de células-tronco de frangos, sem penas, sem bicos, ligadas a eletrodos, para transformarem-se em pedaços homo- gêneos de peito, coxa, ante-coxa, em formatos compatíveis com as embala- gens para a comercialização. O café de qualidade, com coloração mais clara, geralmente é denominado “chafé” e desprezado. s î M. Dueñas
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