Revista da ESPM JUL-AGO_2009

R e v i s t a d a E S P M – julho / agosto de 2009 102 Fogo cerrado equivocado Sob o argumento central de que as aves estão na cadeia alimentar do ser humano, quais são os limites bioéticos damanipulaçãoda sua anatomia, fisio- logia, estrutura orgânica e vida? A exploração da ingenuidade Houveavanços inegáveisnos indicado- res de qualidade de vida no país e uma significativa expansão no consumo da classe socioeconômica C, mas o Brasil ainda se destaca pela disparidade em sua distribuição de renda. Sabe-se que a TV alcança uma gran- de parte dos lares brasileiros. Esse poderoso veículo de comunicação que poderia ser um grande meio de educaçãoede informação, combinado com entretenimento, tem servido pre- dominantemente como um poderoso veiculador de anúncios, de informa- ções e de entretenimento, porém com reduzido conteúdo educacional. A programação infantil ocupa grande parte do horário diurno da TV aberta, além dos canais especializados para crianças, na TV paga. Na sociedade atual, cada vez mais, a mulher sai para trabalhar. As crianças que não estão nas creches ou não dis- põem de alguém que as acompanhe e que as oriente, comoumababá, a vovó ou a vizinha, convivem muito tempo com a TV, no seu dia-a-dia. Um anúncio que desperte uma necessidade latente, previamente existente no consumidor e que o estimule a comprar, é, eticamen- te, aceitável. O consumidor pode exercer sua opção, utilizando o livre arbítrio. A propaganda deve ser verdadeira. Sendoo consumidor uma criança, difi- cilmente a necessidade é latente. Será criada nomomentode sua veiculação. Torna-se um processo antiético. A propaganda pode tornar-se perni- ciosa quando o produto for segmen- tado e destinado para determinadas classes de renda, mas o anúncio é veiculado para todo mercado, isto é, para todos os telespectadores, atingindo todas as crianças. A exploração da ingenuidade não está restrita à do público infantil e aos produtos de consumo. A propaganda enganosa, seja por omissão ou por manipulação de informações e até deliberadamente falsa, ocorre com fre- quência, atingindo ao público adulto. Especialmente na propaganda eleitoral “gratuita”, os chamados “marqueteiros”– denominação que assumiu um caráter depreciativo, devido aos abusos ocorridos e divul- gados, – “criam” imagens totalmente fantasiosas de candidatos reco- nhecidamente desonestos e até de criminosos. Em episódios recentes, verificou-se que muitos estão sendo acusados por crimes cometidos, mas serão processados em fórum privile- giado, por sua qualificação política. Esses supostos “marqueteiros” con- seguem eleger seus candidatos, com mentiras que não são fiscali- zadas, nem punidas. O Congresso Nacional tornou-se a casa onde os parlamentares legislam predo- minantemente em causa própria, dedicando pouco ou nenhum tempo aos legítimos interesses nacionais. Finalmente, constata-sequeos veículos de comunicação vivem imersos em profundo conflitode interesses. Por um lado, eles vivem de receitas de anun- ciantes, que são os seus clientes e con- sumidores, sendoque os “heavy users” de seus serviços são as três esferas de poder federal, estadual e municipal, alémdas empresas de economiamista. Por outro lado, estão as notícias sobre os escândalos, no governo e no con- gresso, promovidos pelos “políticos”. A imprensa que é paga pelos mesmos protagonistas dos escândalos dificil- mente pode ser neutra e imparcial. Assim, tanto as notícias como as propagandas “oficiais” tendem a perder sua credibilidade. Com leis ditas modernas e atuali- zadas, resultantes desse congresso, que a cada dia está se revelando como um centro de corrupção e bandidagem, o Judiciário não po- deria ser diferente. Os processos são burocráticos e muito demorados. Tudo se passa como se não houves- se justiça. Recentemente, juízes da mais alta corte discutiram em sessão plenária, como se estivessem no botequim da esquina. A insegurança e a violência estão soltas, a impunidade é uma cons- tante e, aparentemente, só os pe- quenos delinquentes são punidos por não conseguirem pagar um bom advogado. O que esperar da ética e da res- ponsabilidade socioambiental neste país? Gentil Choji Nishioka Professor da ESPM e sócio da Business Planing. ES PM

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