Revista da ESPM JUL-AGO_2009
î } Talvez não estejamos explicando, adequadamente, a nossa profissão. ~ queteiro político. Ressalto isso por- que acho que está acontecendo na prática. Também gostaria de propor outra coisa: o papel da publicidade. Lembro-me, das salas de aulas, da figura dos quatro P´s – Preço, Pro- duto, Propaganda e Promoção – na minha época eram três. JRWP – O quarto P é “Distribuição”, em Inglês place – Produto, Preço, Propaganda (ou promoção) e Dis- tribuição. RENATO – Será que a propaganda tem esse poder de fazer com que a criança seja consumidora de um brinquedo, ou a dona de casa cliente de um serviço ou produto? Nessa questão, parece-me que os dois la- dos estão subestimando o papel da sociedade – como disse o professor Gracioso – estão minimizando a capacidade social de discernir entre o certo e o errado. GRACIOSO –Vejo conflito potencial entre o que você está dizendo e o Código de Defesa do Consumidor, na parte em que proíbe o que chama de “propaganda abusiva”. Essa defi- nição é vaga. Afinal, a propaganda só faz efeito quando é persuasiva, quando apela às emoções; há quase 300 anos, um filósofo inglês, David Hume, disse que “só a arte dá vida à verdade”, não adianta repetir mil vezes a verdade se você não doura a pílula de alguma maneira. Ninguém acredita, ninguém se convence. Lembrem de uma campanha, que teve êxito tremendo, a do Leite Parmalat. Distribuíram bichinhos de pelúcia e a marca Parmalat se beneficiou mais dessa campanha do que da camisa do Palmeiras. Só que, hoje, o Código poderia objetar: “é propaganda abusiva”... JRWP – Provavelmente, objetaria. Diriam: “Esses bichinhos são uma forma desonesta de apelar à inge- nuidade infantil”. GRACIOSO – E aí, como ficamos? É complicado... SÉRGIO REIS – Professor, você faz a pergunta – se a propaganda é capaz disso tudo – eu tenho tantos quilô- metros nessa profissão que vou ter que admitir: “é capaz, sim”. Nessa história de sucesso – reconhecida por todo mundo – o bichinho é ape- nas uma metáfora. Por isso é preciso haver institutos, códigos de defesa, como precisa ter um código de éti- ca interno. Na propaganda temos o Conar, do qual nós brasileiros deveríamos ter um pouco mais de orgulho. No jornalismo não há nada disso, embora se fale muito. JRWP – Dizem que com a revogação da Lei de Imprensa, eles estão-se sentindo meio órfãos, sem lei... SÉRGIO REIS – Onde há comunica- ção social é preciso haver responsa- bilidade social. O médico tem sua responsabilidade perante o pacien- te, às vezes caso de vida ou morte, por isso exige-se desse médico que siga um código de ética. O cidadão fala com milhões de pessoas pela internet, pela televisão aberta, pelo rádio. O rádio junta sua capacidade de difusão à emoção das pessoas, incluindo a do comunicador – toda empresa gostaria de contratar um deles. Precisa haver um Código de Ética, simples e cobrável. Quan- do a ANVISA impõe uma regra à propaganda de remédios, quem sai perdendo imediatamente são os veí culos de comunicação. O rádio e a televisão sofrem logo uma queda de faturamento. Estou esperando que os veículos interajam melhor entre si para que a sociedade entenda tudo isso que estamos vivendo, tanto os prós como os contras. Temos de trazer o debate para a sociedade, com a ajuda dos veículos. RENATO – Olhando da sala de aula, vejo que as figuras são as mesmas, mas está se alterando o relaciona- mento. Os telespectadores pontuam o que estão vendo. Se for coisa ruim, “aí está o culpado”. Vejo grande avanço depois da Constituição de 1988, no sentido de se educar, formar e fazer valer os interesses do cidadão. O contexto social está se movendo da passividade para a ati- vidade. Mas ainda estão conceituan do o marketing, ou a propaganda, como um grande vilão. JRWP – A função em si, como vilã. A propaganda e o marketing conseguirão sobreviver a esse fogo cerrado? julho / agosto de 2009 – R e v i s t a d a E S P M 119
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