Revista da ESPM JUL-AGO_2009
Mesa- redonda R e v i s t a d a E S P M – julho / agosto de 2009 120 RENATO – Como se bastasse vei- cular um anúncio para fazer com que a pessoa compre o produto. Nós acompanhamos a luta da ABRINQ pela propaganda dos brinquedos, onde surgiu a ideia segundo a qual “o que você anun- ciar na televisão como brinquedo a criança vai querer, vai forçar o pai; se o pai não comprar a crian- ça vai ficar frustrada”... Pronto, acabou a sociedade, está criada a desavença. JRWP – No fundo, é o próprio consumo que está sendo posto em questão. RENATO – E exclui a figura dos pais, sua responsabilidade em ponderar “não, isto não é apropriado para você, quer a boneca, quer o carri- nho, mas não é possível, não dá”. Acho que se está crucificando a propaganda, buscando, no Direito, conceitos para servir de anteparo às dificuldades da situação. JRWP – As primeiras experiências das crianças com os brinquedos são por intermédio dos próprios pais e parentes, que trazem o famoso “pre- sente”; a publicidade só vem depois. SYNÉSIO – No mundo do brinque- do, aprendemos três coisas: ouvir o que não foi dito, ler o que não está escrito e entender o que nenhum de vocês explicou. Isso que vocês têm na cabeça é uma coisa meio poéti- ca, porque nós, brinquedeiros, não somos melhores ou piores do que qualquer outro setor industrial; mas, certamente, somos diferentes dos fabricantes de alimentos, máquinas ou automóveis, na medida em que não vendemos produtos e sim o ima- ginário. A criança brasileira ocupa o terceiro lugar em importância mun- dial no seio da família. Quando ela diz “eu quero”, alguém vai atender. JRWP – Quais são os dois primeiros? SYNÉSIO – O primeiro é a China, porque lá só se pode ter um filho por família. Depois, o Japão. A mulher japonesa – por razões que não quero debater aqui – vive para cuidar do filho. No Brasil, a mulher brasileira estufa o peito e fala “é o meu filho”. JRWP – Terceira criança mais mima- da do mundo... SYNÉSIO – A mulher brasileira abandona seu PhD em Harvard e a carreira profissional para cuidar do filho. Coisas como essa levam o fabricante de brinquedos a um jeito diferente de pensar. O que vale, no setor, é eu dizer a mim mesmo como quero ver o mundo e como quero que o mundo me veja – o meu mundo, o ambiente infantil. Certa vez tivemos um caso interes- sante no Conar. Num comercial de helicóptero de brinquedo havia um de verdade, voando, e alguém reclamou querendo que o tirasse do filme. Eu disse não. Tivemos uma discussão, que ganhamos, porque soubemos argumentar: “Os adultos esquecem de como é o imaginário infantil. Na nossa infância, éramos totalmente desinformados, em com- paração com as crianças de hoje – um revólver era o dedo, o carrinho era o cabo da vassoura, sua mãe cobria com lençol um buraco no chão e você ficava preso lá dentro... E continuei: “Nenhum de vocês, em volta dessa mesa, conhece o imaginário infantil. O helicóptero voa, sim, porque é a imaginação da criança que o faz voar. Eu não vendo a ela um helicóptero de brinquedo, mas um sonho, a imaginação, o ato de se achar. Quanto mais se acham, melhor para nós.” Reparem que sempre dá errado, quando um adul- to indica o que uma criança deve fazer, seja falando, seja mostrando. Só há uma coisa que nunca deu er- rado e resiste ao tempo: o exemplo. A criança acata o exemplo vindo de quem ela admira e respeita. Aqui no Brasil nós, do mundo do brinquedo, temos de lançar, no mínimo, três brinquedos novos por dia, se eu não fizer isto, estou fora do jogo... JRWP – Você fala isso de uma em- presa individual? SYNÉSIO – Não, do mercado como um todo. Toda empresa precisa de uns 70, 80 lançamentos por ano, caso contrário está fora. Para 1.200 modelos, os nossos designers pre- cisam preparar 15 mil projetos. Depois, sobram 1.200 protótipos que eu levo à Feira, onde o lojista descarta mais 300. Fabricamos 900, vendemos, e a criança joga mais 600 fora. Enfim, eu só consigo ganhar dinheiro com 300 deles. Ou seja, o nível de inteligência emocional, de demanda, é uma coisa fabulosa e este é o nosso mundo. Todos os anos nos reunimos; há uma entidade que se chama International Council of Toy Industries, da qual participam as ABRINQs do mundo todo. Somos 47 membros que se reúnem para definir qual a provável cor favorita do ano que vem, qual a tendência, se vamos colocar mais um chip etc.
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