Revista da ESPM JUL-AGO_2009

Mesa- redonda R e v i s t a d a E S P M – julho / agosto de 2009 122 que é para comprar televisão a cabo, aluguel, comprar brinquedo e roupa. Mas em seu elemento natural não existe brinquedeiro de mau humor, de mal com a vida, isso não combina com o produto que fazemos. São 440 fábricas no Brasil, onde se canta “parabéns para você” e se serve bolo com guaraná, quando tem diretor fa- zendo aniversário. É outro mundo. Vamos olhar para o ambiente do legislador. Fazem projetos de lei proibindo a fabricação e venda de arma de brinquedo em escala, 6.700 até o momento. Mas não fa- bricamos arma em escala desde o dia em que um jornalista me aler- tou e mandei os doze fabricantes cessarem a produção. Isso já faz 15 anos, mas continuam prolife- rando projetos, aos quais damos o invariável parecer “estamos de acordo, estamos de acordo”. Brinquedeiro não conflita com a cultura. Dou outro exemplo: acha- mos que, por não haver boneca grávida, estava na hora de fabricar uma. Nossos homens de marketing empenharam-se ao máximo, para chegar antes da concorrência. Então, na ABRIN – a Feira Nacional de Brinquedos – apresentamos uma boneca linda, grávida, com vesti- dinho. Como não encontramos um plástico que fizesse o movimento do parto natural, colocou-se uma tampinha, a placentinha, o bebe- zinho, tudo lindo (tenho a minha guardada até hoje, porque brinco de boneca de vez em quando). Pois foi para o mercado e não ven- deu. Pesquisamos e descobrimos que esquecemos da mãe, não ha- víamos perguntado a ela se estava preparada para aquilo, afrontamos sua cultura. As mães da periferia, do Piauí e dessa imensidão do interior brasileiro, não conversam sobre nascimento com os filhos, é a cegonha que traz. Se tivesse feito uma cegonha carregando o bebê, talvez tivesse vendido tudo. Sabemos que não se pode afrontar a cultura, não é um deputado que vai nos dizer isso. Discutimos o tempo todo, se não estamos er- rando em algo, se não há um ponto que possamos melhorar. Já as pessoas do Governo não se atualizam porque não têm o mesmo compromisso com o resultado assim como o homem de marketing. Esse descompromisso dos entes que regulam as nossas vidas fez criar umnegócio chamado lobby . E aí o mundo está perdido... JRWP – Essa participação do Synésio foi meio inesperada, mas, extrema- mente útil, pois seu depoimento mostra que nenhum de nós entendia de brinquedos... O que me dá uma chance de perguntar: será que, ana- logamente, a sociedade não tem a menor ideia do que fazem profissio- nais de propaganda ou marketing? MARCELO – Creio que, se deixar- mos um empresário solto, com o seu espírito “animal”, pelas ruas, as consequências serão ruins. Por outro lado, o mecanismo de regu- lamentação estatal é falho. Então temos duas situações: não posso deixar o meu espírito animal sair porque vou querer matar o cara do celular, da roupa. Se não houvesse } O cidadão sabe que não adianta reclamar contra o serviço público. ~

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