Revista da ESPM JUL-AGO_2009

} Se alguém quer influenciar, é preciso proteger. ~ î SYNÉSIO–Nós vendemos por ano250 milhões de brinquedos.Mas vocês não imaginam o controle que a sociedade tem sobre nós. Ao telefonema de uma consumidora nós entramos empânico. Não tenhovontadede encarar omicro- fone e refletor de nenhuma televisão para explicar o que aconteceu. De dois milhões e meio de um brinquedo comercializado emterritóriobrasileiro, saiu o parafuso de fixação de um úni- co exemplar, e vou à loucura se não mandar refazer o projeto, desaparecer com aquele parafuso, encontrar outro mecanismo.Não sei se foi aempregada que tirou o parafuso, não posso fazer acusações, mas é melhor que eu não tenha a consumidora contra porque ainda preciso dela mais uns dez anos, já que o filho só tem dois. Então, con- sertamos. A indústria é assim. RENATO – Isso é responsabilidade. O que me preocupa é a ideia de proibi- ção. A ideia de entender o que é certo ou errado é o queme parece essencial, nessa relação entre a sociedade, em- presários e essas figuras teoricamente com menos condições de reclamar... GRACIOSO – O setor público, prin- cipalmente, critica e condena com maior facilidade, por saber que, quanto mais condenar e criticar a iniciativa privada, mais vai esconder as próprias mazelas. Por que vocês no IDEC não passam a fiscalizar, também, os serviços prestados pelo poder público – educação, saúde pública, segurança etc.? VIDAL – Fazemos isso. Vou mandar umas revistas do IDEC para o senhor, temos até uma cartilha sobre como o cidadão deve se comportar em maté- ria de saúde pública, como reclamar do governo, como entrar com ação judicial. Houve uma época em que o IDEC disponibilizava modelos de pe- tição para o cidadão poder reivindicar internação quando não conseguia. E várias outras coisas. MARCELO – Acho que o cidadão sabe que não adianta reclamar contra o serviço público, nada irá acontecer. Mas, se reclamar contra a empresa de telefonia, aquilo irá ecoar na imprensa e o presidente da empresa, forçado pelos acionistas, virá a público dar uma satisfação. Se você é mal atendido por uma empresa pública, o que vai fazer? Acaba se resignando. JRWP – Poderia ter um ouvidor, um canal que funcione. RENATO – Mas os bancos e a tele- fonia melhoraram com intervenções estatais. Os call centers da TIM e Vivo eram terríveis, você esperava 40 minutos ao telefone. O DPDC – Departamento de Proteção de De- fesa do Consumidor – baixou uma regulamentação acabando com isso. Liguei recentemente e fui atendido em dois, três minutos. Nos bancos você esperava nas filas, antigamente, 40, 50 minutos... SYNÉSIO – Estamos resvalando agora para comportamento – a fila está organizada, temos de atender em tanto tempo. Sem desmerecer o tema, por favor, não quero é ver o governo proibindo de falar com as crianças. GRACIOSO – O Código de Defesa do Consumidor deveria ser subs- tituído pelo Código de Defesa do Cidadão e incluir também serviços públicos. Até lá fico considerando esse código mera cortina de fumaça para afastar, do setor público, o foco das críticas. JRWP – A Revista editou um nú- mero anterior sobre serviços, já faz uns três ou quatro anos, aflorando este assunto. Ouvimos um grande historiador e especialista sobre di- reitos, que é o Professor José Murilo de Carvalho. Ele disse uma coisa interessante: “no Brasil os direitos do consumidor surgiram antes dos direitos do cidadão”. Portanto o que o professor Gracioso está dizendo tem uma certa lógica. VIDAL – Os direitos básicos do cida- dão estãonaConstituição, no artigo5 o . JRWP – Mas quem conhece? RENATO – E quem me defende do Estado? JRWP – Foi Juvenal, um poeta ro- mano, que já dizia – há 2 mil anos: A propaganda e o marketing conseguirão sobreviver a esse fogo cerrado? julho / agosto de 2009 – R e v i s t a d a E S P M 125

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