Revista da ESPM JUL-AGO_2009
R e v i s t a d a E S P M – julho / agosto de 2009 40 A propaganda e o marketing no horizonte da metafísica Entretanto não é suficiente coibir os abusos da propaganda com leis restritivas. Sempre haverá substitutivos. Esse desafio exige outra reação, obriga a outra luta: a luta pela ética profissional, em que já estão engajados muitos profissionais da propaganda no Brasil. Isso da parte dos sujeitos da publicidade. Resta o público-alvo. É importante defendê-lo a partir do controle social, porém, mais importante, é formá-lo, para que possa apreender a verdade das coisas e exercer um discernimen- to, ficando com o que é bom e verda- deiro e descartando o que não presta. Lato sensu , é necessário um corres- pondente domestre-escola euclidiano e da instrução pública renaniana. A diferença é que, no caso atual, trata-se de uma instrução filosófica formal, por meio da escola, ou informal, pela ação midiática dos formadores de opinião. Uma instrução que leve à essência das coisas. Platão propôs umrei-libertador filósofo. Não estamos longe dele. A Pós-Modernidade considera o real como um texto e aceita todas as leitu- ras que dele se façam. As coisas têm apenas um existir; não têm um ser, ou, se o têm, é inalcançável. Fourez 5 alega ser impossível observar o real em si, porque sempre existe a intermedia- ção da linguagem, que nos precede, acompanha e ultrapassa.A realidade é construída por um sujeito estruturante (individual ou coletivo), por intermé- dio da linguagem. Não se pode, pois, falar de objetos em si, mas de objetos fenomenais: “ O que haveria, em última instância, ‘atrás’ ou ‘abaixo’ de nossas observações está fora de nos- so alcance; chegamos sempre muito tarde: o sujeito estruturante já está lá quando falamos de um objeto ”. Essa linha de pensamento conduz ao nominalismo, que corrobora as inves- tidas da propaganda, porque as coisas não têm um ser, só têm um nome. As conclusões mais recentes de mui- tos estudos filosóficos evidenciam a desconfiança total da razão e o fimda metafísica: “querem que a filosofia se contente com tarefas mais modestas, tais como a mera interpretação dos fatos ou apenas a investigação sobre determinados campos do saber huma- no ou das suas estruturas”... Mas “ a lição da história neste milênio, quase terminando,testemunha que a estrada a seguir é esta: não perder a paixão pela verdade última, nem o anseio de pesquisa, unidos à audácia de desco- brir novos percursos ” 6 . A experiência tem demonstrado que esse caminho antigo e novo leva a bom termo. É absolutamente necessário buscar o ser das coisas, porque o agir segue o ser, agere sequitur esse . O trabalho tem um ser. O estudo, o lazer, a ativi- dade lúdica, o amor, a sexualidade, a amizade, o casamento, a procriação, a família, a arte, a ciência, a tecnologia, a filosofia, a indústria, o comércio, o vestir, o alimentar-se, a propaganda, o marketing, a vida, a morte, tudo tem uma essência, que a intermediação da linguagem não impede de conhecer. Há que conformar a mente e, conse- quentemente, oagir comessa essência. O aprofundamento filosófico é a cha- ve que abre caminhos de liberdade em meio às seduções da propaganda. À persuasão e à mimese só se resiste com a ética e a metafísica. Bibliografia SILVA , Ana Beatriz Barbosa. Artigo - Comprar Compulsivo: onde o TER se confunde com o SER. Em: http://www.medicinadocomporta - mento.com.br/artigos/arquivos/04.htm , aces- sado em 20/10/2006, às 10h. RENANT , Ernest. Histoire des origines du Chris- tianisme . Livre Septième: Marc Aurèle et la in du Monde Antique. Édition établie et presentée par Laudyce Rétat. Ed. Robert Laffont. CUNHA , Euclides da. Canudos (Diário de um Expedição) . In: Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1995. FOUREZ , Gérard. A construção das ciências . Tradução de Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Unesp, 1991. JOÃO PAULO II. Fides et ratio . São Paulo: Edições Loyola, 1998. Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo Professora do curso de graduação em Relações Internacionais com ênfase em Marketing e Negócios da ESPM. 1. Artigo Comprar compulsivo: onde o TER se con- funde com o SER. Em: http://www.medicinadocom- portamento.com.br/artigos/arquivos/04.htm, acessado em 20/10/2006, às 10h. 2. Direção de Stephen Daldry. Com: Kate Winslet, Ralph Fiennes e David Cross. Baseado no romance de Bernard Schlink. 3. “Malgré les lois, les magiciens les plus malfaisants réussaient.” ... “Ainsi Le progrès intellectuel ne ré- pondait nullement au progrès social. L’attachement à la religion d’État n’entretenait que la superstition et empêchait l’établissement d’une bonne instruction publique”. In RENANT, Ernest. Histoire des Origines du Christianisme. Livre Septième: Marc Aurèle et La Fin du Monde Antique. Édition établie et presentée par Laudyce Rétat. Ed. Robert Laffont, pp. 804-805. 4. “Que pelas estradas, ora abertas à passagem dos batalhões gloriosos, que por essas estradas amanhã silenciosas e desertas siga, depois da luta, modesta- mente, umherói anônimo sem triunfos ruidosos, mas que será, no caso vertente, o verdadeiro vencedor:o mestre-escola”. In CUNHA, Euclides da. Canudos (Diário de uma expedição). InObra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1995, p. 534. 5. FOUREZ, Gérard. A construção das ciências. Tra- dução de Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Unesp, 1991, p. 50 e segs. 6. JOÃOPAULO II, Fides et Ratio. São Paulo: Edições Loyola, 1998, pp. 43 e 45. notas ES PM
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