Revista da ESPM JUL-AGO_2009
J. Roberto Whitaker Penteado julho / agosto de 2009 – R e v i s t a d a E S P M 45 notas J. Roberto Whitaker Penteado Doutor em comunicação e cultura (UFRJ), diretor do Instituto Cultural ESPM e editor desta Revista. 1. LOPES , Luiz Carlos. CIBERLEGENDA . Mar. 2000. Disponível em: <http://www.uff.br/ mestcii/lclop4.htm> Acesso em: 15 jun. 2009. 2. STRASBURGER , Victor C. Children, ado- lescents and the media: what we know, what we don’t know and what we need to find out (quickly!). Archives of Disease in Childhood. 27 may 2009. 3. WINNICOTT , D. W.; SHEPHERD, R.; DAVIS , M. Home is where we start from. Harmondsworth: Penguin 1986. LORENZ , Konrad. A Agressão . São Paulo: Mar- tins Fontes, 1989. Comentários A afirmação de que os pais e a so- ciedade consideram a mídia como inócua está longe de refletir uma realidade social, embora, de fato, os seus responsáveis prefiram enfatizar o positivo – o que é, até, compreensível. Como médico, o Dr. Strasburger não pode ignorar a quase unanimidade contemporânea sobre o fato de que a agressividade – com base nos estudos de Winnicott e Lorenz 3 – representa um instinto próprio a todo ser humano, necessário para a sua existência. A agressividade é sinônimo da motilida- de (algo que o bebê adquire nos seus primeiros meses de vida). O compor- tamento agressivo faz parte da vida hu- mana. Logo, se amídia tem influência, será uma influência equivalente às que exerce em praticamente todos os setores do comportamento humano e não poderá ser “isolada”, como pare- cem pretender os seus críticos mais ferrenhos. O número de 10% parece não significar mais do que um chute educado do nosso doutor V.S. Mesmo ao referir-se à marcadamente puritana sociedade americana, o autor certamente exagera ao considerar “a mídia” em geral como educadora dos jovens em matéria de sexo e/ou sexualidade/sensualidade. Há um substancial parti pris , no desconforto sentido pelas gerações mais antigas, em confronto com esta área do com- portamento humano e – geralmente – as restrições ao que a mídia apresenta têma ver comuma herança repressiva – às vezes até vitoriana – considerada, hoje, como pouco saudável. A meu ver, a melhor contribuição do Dr. V.S. reside na admissão do papel positivo da propaganda contido na admissão de que, nos EUA, “o tabaco ainda é anunciado, mas os anticoncepcio- nais são restritos ou proibidos”. Não há nada de novo, também, no reconhecimento de que o cinema (como, antes, o teatro, a ópera ou as pantomimas) provoca emulação, por parte da audiência. Se prevalecer a tese de que só comportamentos socialmente aceitáveis (e nem todos são – a rigor – eticamente corretos) sejam exibidos pela mídia, teremos estabelecido o maior sistema de censura prévia da História... O co- mentário aplica-se, igualmente, ao estabelecimento de parâmetros so- cialmente aceitos – como as modelos e atrizes anoréxicas da atualidade – desde o instante em que o homem pré-histórico começou a fixá-los nas paredes de suas cavernas. Os comentários sobre obesidade são igualmente genéricos e revelam uma confusão do autor sobre qual será a variável dependente e a independen- te. Os jovens que preferem a com- panhia da TV ou da internet, a fazer exercícios, permanecem sedentários quando privados do equipamento – sugerindo fortemente uma tendência ao sedentarismo provocada por al- gum outro fator. Também os jovens com mau desempenho escolar, que preferem assistir à TV; não eram eles os mesmos “gazeteiros” das gerações pouco midiáticas dos séculos 19 e 20?Tudo isso dificilmente pode justi- ficar a recomendação – mais adiante – de que o tempo de entretenimento eletrônico diário deva ser reduzido a, no máximo, 2 horas. Mas acerta o Dr. V.S., quando afirma que “a mídia pode exercer efeitos benéficos”. Não são os livros – afi- nal – um tipo de mídia? Por que não admitir o potencial de instrução dos CDs, DVDs, pendrives , iPhones e celulares? Para ser justo, devo men- cionar que, na conclusão do artigo analisado – de par com a repreen- são aos responsáveis pela mídia – o autor faz algumas observações bastante pertinentes em relação a outros atores do processo, como os pais, por exemplo, que abdicam de seus papéis com alguma rapidez, diante das novas babás eletrônicas. E admoesta as escolas a tornarem suas aulas menos enjoadas: Shakes- peare escreveu suas peças para serem representadas, não lidas! E também para abrir mais espaço para a educação sexual. E conclui: os pediatras devem conversar mais com os pais e os professores; ao que eu acrescentaria: devem, também, estudar um pouco mais a respeito da teoria da comunicação e dos mecanismos de mercado. ES PM
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