Revista da ESPM JUL-AGO_2009

Entrevista R e v i s t a d a E S P M – julho / agosto de 2009 48 Gracioso – O tema que quero debater não é apenas o papel, a situação da cerveja – embora a cerveja esteja envolvida. Vai além: envolve alimentos que passaram a ser considerados no- civos à saúde, envolve o fumo, os brinquedos, medicamentos populares. A cultura brasileira não aceita muito bem restrições à cerveja. Trabalhei alguns anos na An- tarctica, e o Dr. Walter Belian, presidente por mais de 35 anos, dizia que “a cerveja é o pão líqui- do”; refletindo o ponto de vista alemão. Durante anos, na An- tarctica, os operários recebiam um canecão de 1 litro de cerveja, no almoço, e não consta que, à tarde, houvesse mais acidentes do que na parte da manhã. Alexandre – Na Alemanha, a cerveja é item da cesta básica. Gracioso – Há uma histó- ria – verídica – de que alguns diretores da AmBev visitaram o Presidente, para falar sobre alguns projetos de investimen- tos, mas, na conversa, acabaram falando sobre o cerceamento da propaganda de cerveja e o Lula disse “discordo um pouco disso porque, quando eu era presidente do sindicato, lá no Ipiranga, no início, o dinheiro era curto e nós bebíamos pinga e, como resultado, brigávamos o tempo todo. Depois, as coisas melhoraram, passamos a beber cerveja, e as brigas acabaram. Eu apoio a cerveja e vou ajudá-los a convencer o congresso”. Lisboa – Nada melhor do que a prática. Gracioso – Gostaria de come- çar pedindo a vocês que falem – como homens de marketing, ho- mens de empresa que são – sobre esse momento que vive o Brasil, em que há preocupações com a ética, com a sustentabilidade, a responsabilidade social das em- presas e que força a empresa a ir além das suas obrigações estrita- mente legais. Será que não está havendo algum exagero? Lisboa – Em 2001/2002, eu era o responsável pela marca Skol, na companhia, e lembro-me do Carlos Brito (que hoje é o CEO da companhia global) convidan- do-me para um desafio que era, justamente, o de investigar e entender como é que a compa- nhia poderia exercer o seu papel perante a sociedade de maneira mais efetiva, além daquele para o qual ela foi constituída, de produtora e comercializadora de bebidas, não só alcoólicas, mas também de refrigerantes. Naquele momento – e isso nem é muito conhecido – a empresa já dispunha de uma série de iniciativas sociais. A companhia tem um conjunto de programas voltados ao meio ambiente, à não utilização da água, além do necessário; à reutilização de resíduos sólidos, programas voltados para a educação das comunidades. Mas, muitos não sabem disso. Ivan – Vocês não têm um rela- tório anual, especifico de RSS? Alexandre – Desde 2005 te- mos um relatório de sustentabi- lidade no modelo GRI – Global Reporting Initiative. Em 2005 não foi publicado; fizemos em caráter piloto e, a partir de 2005, vimos publicando anualmen- te, de acordo com os critérios de GRI, estabelecidos como o estado da arte em matéria de divulgação de dados de susten- tabilidade. Nosso sistema de gestão ambiental já tem 17 anos. Somos a empresa que menos usa água para a produção de cerveja; aproveitamos 98% dos nossos resíduos industriais em outras cadeias produtivas; temos 34% da nossa matriz energética com energia limpa, com biomassa, que também tem um efeito co- lateral muito positivo que ainda ajuda as comunidades. Em lugar de gado, usamos sebo de gado; em locais de plantação de café, palha de café; no nordeste, usa- mos palha de coco. Assim, temos 34% da nossa matriz energética já com energias limpas. Somos patrocinadores da maior ONG } Precisamos divulgar isso melhor. ~ } Na Alemanha, a cerveja é item da cesta básica. ~

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