Revista da ESPM Julho-Agosto_2010
R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2010 104 o governo eletrônico, as compras em pregão, a transparência, que é considerado um ponto positivo porque quebra um pouco a dinâ- mica de patrimonialismo, mes- mo as discussões existentes nos Estados com relação à definição dos orçamentos. E a outra é a Lei de Responsabilidade Fiscal. Na verdade, toda ideia de resultado está muito ligada à responsabili- dade fiscal. Esses são dois grandes avanços na área de gestão. MÁRIO RENÉ – Não lembro quem foi a pessoa que disse que “O Brasil é o País do quase, você vai fazendo coisas ótimas e não continua, não termina”. Aliás, esse é um fantasma homérico, que nos ronda com relação à Copa de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016. Há uma série de iniciativas fantásticas que são apresentadas e na hora de fechar o projeto, nada se conclui ou a ideia termina pela metade. Outro ponto é a quantidade de profes- sores que tem licença para saúde, bônus para isso, bônus para aquilo e dos 220 dias letivos, em que podem trabalhar apenas 40, sem problema algum. Penso que essa Mesa-Redonda poder ia cruzar quatro pontos cardeais – Privado e Público, Individual e Coletivo. O que faz com que as pessoas entrem em grandes universidades? Segu- rança, aposentadoria integral, e o fato de não poder ser demitido, o que se chama de estabilidade – isso é individual. GRACIOSO – Em outras palavras: tudo, menos competir. MÁRIO RENÉ – É tudo, menos competir e mais que isso, é a busca de duas palavras-chaves: seguran- ça individual e até mordomias. E aí tem de entrar uma macro, uma superestrutura tentando organizar isso. E outro fator que não foi men- cionado é o papel da imprensa, mostrando todas essas coisas que estão sendo discutidas, porque se ela não existisse ou se estivésse- mos ainda na época da censura, nada disso seria exposto ao púbico. EDUARDO – Ao analizar o am- biente institucional, você tem o formal, que são as leis, as regras e aí se tem os caminhos que nem sempre são tão grandes assim. E o informal, que é a cultura. Esse é o ponto. O próprio Douglass North, Prêmio Nobel, que esteve no Bra- sil, falava que “se você cria insti- tuições que privilegiam corrupção, as empresas corruptas serão mais eficientes”. Será que não estamos nesse caminho? Concordo com o Alexandre no sentido da mudan- ça, mas o quão se pode apressar essa mudança institucional, que pelo jeito é um consenso do que estamos passando. GRACIOSO – O curioso é que não só no Brasil, mas no mundo inteiro, as mudanças no serviço público são retardadas pela aliança estratégica entre os servidores e seus sindicatos e os partidos de esquerda. Nesse ponto não sou d i reit ista ou esquerd ista, mas acredito, sinceramente, que essa aliança da esquerda com os sin- dicatos dos ser v idores é a pior coisa que poderia acontecer para qualquer país. ALEXANDRE – Está acontecendo algo interessante que me leva a imaginar que as coisas começam e não terminam no caso de transfe- rência de práticas do setor privado para o público. Ela adquiriu um caráter suprapartidário. Se pen- sarmos no chamado Choque de Gestão de Minas Gerais, ele foi fei- to por Aécio Neves, que é tucano, e você pode dizer que isso é uma coisa que os tucanos estão levando adiante e a esquerda não aceita. GRACIOSO – Mas quem ajudou o Aécio Neves foi o Vicente Falconi, um consultor ligado ao mundo privado. ALEXANDRE – Essa transferência de práticas privadas para o setor público, em Minas Gerais, virou referência; a turma do Vicente Falconi, do INDG (Instituto de Desenvolvimento Gerencial) co- meçou a levar sistemas de gestão, ensinou o governo a criar metas, cobrar o desempenho e fazer o acompanhamento. O resultado foi bom e isso foi replicado em vários lugares. Por exemplo, o governador de Pernambuco, que é } As revistas, os jornais de negócios têm coletâneas de casos de sucesso e quase não têm os casos de fracasso. ~
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