Revista da ESPM Julho-Agosto_2010

R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2010 106 } Você não é avaliado apenas porque fez cer to ou errado, ou se foi com- petente ou não na sua função como ocorre na área privada. ~ como no caso da SDE (Secretaria de Direito Econômico). Só que aí há uma série de questões, porque um Secretário de Estado não ganha R$ 10 mil. Então, como atrair e man- ter profissionais com mestrado e doutorado no exterior trabalhando no poder público? Vê-se também muito inchaço da máquina. Brasília tem aposentadorias gigantescas e salários enormes porque teve de levar essas pessoas há 50 anos para o meio do deserto, para serem funcionários e, até hoje, paga-se o preço por isso. De um lado do problema, como é que se atrai hoje em dia, se remunera bem e man- tém essas pessoas trazendo ideias de gestão? De outro, será que não vai criar um problema lá na frente? Esses são os dilemas. MÁRIO RENÉ – Ao mesmo tempo que existe o pessoal que serve ca- fezinho no Senado ganhando R$ 7 mil por mês, há pessoas gabaritadas do funcionalismo público ganhando metade ou um terço do que ganharia na iniciativa privada. Enquanto não se conseguir eliminar essas coisas, fica essa “imagem” bem estranha do mundo público. DIEGO – Exatamente. Os cargos menores, por exemplo, um cargo de office-boy , na iniciativa privada, ganha muito menos do que a mes- ma pessoa na iniciativa pública. MÁRIO RENÉ – E a que se deve isso? É a imagem que fica. ALEXANDRE – Uma coisa inte- ressante é a briga que está acon- tecendo agora com a questão de se divulgar salários de servidores públicos. A Prefeitura de São Paulo expôs no site os salários de todos os servidores públicos e aparece o cafezinho, as mordomias... Na ponta do atendimento ao público, os salários são muito baixos, o que dificulta levar pessoas gabaritadas para cargos mais importantes. Aí se tem uma discussão jurídica, já teve liminar para os dois lados sobre se pode ou não revelar os salários das pessoas. A tendência parece ser no sentido da transparência. Quando começa a mostrar tais aberrações fica mais difícil sustentá-las. Então, embora não seja capaz de voltar na história para entender por que acontece, olhando para frente, a transparência tende a reduzir isso. Não vai se conseguir demitir a pessoa que ganha R$ 7 mil para servir cafezinho porque ele já tem estabilidade no emprego, mas vai ter dificuldade para admitir outro servidor com esse salário, quando tiver de exibir a sua folha de paga- mento para a população. O projeto é uma coisa que atrai gente boa. MÁRIO RENÉ – Talvez seja o caso do próprio Henrique Meirelles no Banco Central. Essas pessoas estariam lá por altruísmo? O que as leva a estar no serviço público tentando fazer com que ele pro- duza? A grande pergunta é: se há pessoas no ser viço público que conseguem, milagrosamente, como por exemplo no Rio de Janei- ro, onde o Secretário de Segurança conseguiu diminuir o índice de bagunça em certas favelas, por que isso não acontece com os outros 120 milhões de brasileiros? Se isso acontecesse, o Brasil começaria a ser um modelo, mas não acontece porque é uma exceção. ALEXANDRE – Não é exceção, é o começo. Isso é muito recente. DIEGO – O que me motiva é que tenho uma formação acadêmica e estudei no exterior, onde há oportunidade de se trabalhar com problemas complexos. Tenho 34 anos e quando me comparam com colegas que estudaram comigo, perguntam como tenho um cargo desses, se um alemão de 60 anos não consegue fazer o que faço aqui? O Brasil lhe dá a oportuni- dade de acessar problemas com- plexos, com autonomia e poder de decisão para implementar uma ideia ou um projeto. Isso é muito estimulante. É óbvio que, além de ter resultado, também se aprende muito, cresce e isso lhe dá um ganho na carreira, e assim partir para um cargo maior ou voltar va- lorizado para a iniciativa privada. GRAC IOSO – Você sonha em desligar-se do serviço público um dia e trabalhar no lado privado? DIEGO – Eu sou um técnico, não sou um político, para mim é uma experiência de governo.

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