Revista da ESPM Julho-Agosto_2010
R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2010 108 } Se você cria instituições que privilegiam corrupção, as empresas corruptas serão mais eficientes. Será que não estamos nesse caminho? ~ sua voz, entusiasmo pelo que está fazendo, pelos resultados que são muito bons, pelo projeto, enfim, pela obra que ele considera, com toda a razão, importante e útil para a coletividade. Não podemos mi- nimizar a importância do idealis- mo no serviço público, felizmente ainda há muito. DENILDE – Professor, não é só no serviço público brasileiro. Como sou da área de Relações Interna- cionais, sempre lembro do sistema internacional, porque o discurso do Obama de convocação das pessoas para irem para o serviço público americano, que é tão criticado quanto o nosso e temmazelas terrí- veis, foi exatamente usar o discurso do idealismo. O idealismo funciona muito na decisão de entrar no siste- ma e se profissionalizar. Vejo pela quantidade de alunos que querem servir o Itamaraty, porque acham que podem fazer a diferença e, no sistema público, podem sim, em alguns casos, fazer a diferença. São pessoas que estão realmente imbuí das de fazer política, pensando no bem público, que é a base de toda a área política. O Alexandre falou sobre esse momento de mudança silenciosa e parte desse movimento é porque nos últimos 15 anos tem sido implementada uma política de profissionalização do setor pú- blico. Na Escola de Administração Pública, todos os cursos têm sido ministrados pensando não apenas na alta administração, mas também na baixa administração pública, na pessoa que atende no INSS, que preenche a documentação. Essa também é uma mudança positiva no sistema público brasileiro. MÁRIO RENÉ – Queria fazer três comentários muito rápidos em cima disso. Primeiro, quando se pega um funcionário público de um nível mais simples, há dois pontos que são muito comuns na iniciativa privada: o prêmio, bônus, recompensa ou punição. Vamos pega r como exemplo a nossa Escola: o professor chega atrasado na sala de aula, ministra aulas ruins e briga com os alunos; ele é chamado atenção até ser de- mitido. E um professor que é bem avaliado, tanto pelo chefe de de- partamento quanto pelos alunos, recebe bônus. Esse professor vai tentar brigar menos com os alunos, preparar melhor a aula, não chegar atrasado para receber o bônus e quem sabe ser promovido. Isso em geral não acontece no serviço público. Se o sujeito no Imposto de Renda resolveu brigar com alguém que vai lá reclamar, o azar é de quem foi reclamar, se é que ele não vai ser preso por desacato. E se ele atender maravilhosamente bem, não vai aparecer como funcionário do mês. Isso não acontece e é bási- co no sentido de desenvolvimento humano. A próxima pergunta é se essa mudança de modelo rumo a um profissionalismo melhor é não uma exceção, mas um come- ço? Outro ponto é que a iniciativa privada não é um modelo, é uma máquina de moer carne. Se pegar- mos aqueles executivos típicos em ponte aérea ou viajando de avião que não desgrudam do notebook e trabalham 24 horas por dia também não são ummodelo de vida. Omun- do privado também faz burradas enormes, no primeiro problema de lucratividade são as pessoas que vão embora. Então, quando se fala de um funcionário como “colaborador”, eu pessoalmente acho um absurdo, ele é funcionário e não colabora- dor. Mas isso é uma discussão para outra Mesa-Redonda. No serviço público ele é mais família do que na empresa privada. Em uma família nenhum irmão, tio ou sobrinho é demitido se a renda for menor. No sentido público, a coisa permanece, evidentemente, às custas do tal do contribuinte. DIEGO – Dent ro da i n iciat iva privada há ninhos de conforto em empresas e escritórios, é uma questão de ambição das pessoas. Grande parte da estrutura corpo- rativa tem pessoas que são quase tão estáveis quanto um funcioná- rio público, conhecem o trabalho, fazem a mesma coisa há anos e não trabalham tantas horas. No mundo público, tem aquela pessoa que quer crescer, dirigir o órgão, dar um rumo e também aquela que passou no concurso, acabou. GRACIOSO – Na verdade, Diego, a nossa experiência aqui na Esco-
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