Revista da ESPM Julho-Agosto_2010

julho / agosto de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 111 } Ao mesmo tempo que existe o pes­ soal que serve cafezinho no Senado ganhando R$ 7 mil por mês, há pes­ soas gabaritadas do funcionalismo pú- blico ganhando metade ou um terço do que ganharia na iniciativa privada. ~ ALEXANDRE – A multiplicação dessas práticas é uma coisa impres- sionante e aí acho que a imprensa, e eu faço parte dela, tem um papel importante que talvez não esteja sendo bem exercido. Se olharmos o que a imprensa faz no jornalismo de negócios, há um excesso de casos de sucesso. As revistas, os jornais de negócios têm coletâneas de casos de sucesso e quase não têm os casos de fracasso, a cobertura mais crítica, que são tão comuns quanto. Na área pública é o contrário: praticamente só tem denúncia e pouquíssimo es- paço para experiências de sucesso, o que nos dá a ideia de que há apenas casos ruins, notícias ruins, o que não é verdade. DIEGO – Conseguir uma mídia positiva é difícil, fazemos coisas bem legais e, às vezes, é mais fácil conseguir espaço no exterior. A uni- versidade estrangeira se interessa, mas aqui não tem o mesmo barulho. MÁRIO RENÉ – O próprio sistema do Imposto de Renda brasileiro, a coisa eletrônica é fantástica e o que vai acontecer agora em outubro, as urnas eletrônicas brasileiras são de primeiro mundo. Temos coisas como o próprio sistema bancário, a FEBRABAN, a Embraer, que era uma estatal pura e agora foi pri- vatizada, é um modelo mundial. DENILDE – A tecnologia de gestão que existe no Brasil é exportada para os países latino-americanos e para os países africanos, então podería- mos valorizar mais essa iniciativa. GRACIOSO – Duas coisas. A pri- meira uma referência à Embraer, que é um exemplo fabuloso de planejamento de longo prazo no setor público. A Embraer nasceu, na verdade, muitos anos antes de ser formada pelo Ozires Silva, com o I TA, de onde surg i ram os primeiros engenheiros espe- cializados em aeronáutica. Teve continuidade no CTA, o Centro de Tecnologia Aeronáutica também em São José dos Campos, onde as ideias daquela meninada do ITA eram postas em prática e foi só a partir daí, no terceiro elo da corrente, que surgiu a Embraer, beneficiando-se de tudo o que veio antes. E tudo foi planejado e executado por servidores públicos. Como você disse, não há muita diferença entre os bons, estejam eles onde estiverem. MÁRIO RENÉ – Professor Gracio- so, já que o senhor citou a Embraer, outro exemplo, no setor público, é o Hospital das Clínicas, uma refe- rência para a América Latina e de eficiência muito grande. GRACIOSO – Como meu testemu- nho final, uma palavra de consolo, mas também de desalento. Às vezes, achamos que o g rau de educação pública, de formação cultural cada vez menos ibérico e mais cosmopolita acabarão por eliminar as mazelas de que fala- mos. Não tenham tanta esperança. Vejam o que está acontecendo nos Estados Unidos: de 2007, 2008 para cá eles gastaram, jogaram no lixo US$ 1,3 trilhão, quase o PIB bra- sileiro, em supostas campanhas de combate ao terrorismo. O que fize- ram com esse dinheiro, ninguém sabe realmente, e só no Iraque os generais estão pisando em ovos porque tem auditores do governo deles no Iraque para mostrar onde gastaram, de um ano e meio para cá, US$ 8,5 bilhões, que simples- mente desapareceram. Deveriam ser usados na reconstrução do país e pararam no meio do caminho, o que mostra aquele velho chavão “o preço da liberdade e da ética é a eterna vigilância”. Não adianta, a natureza humana, infelizmente, é corruptível e não só no Brasil, mas em qualquer país. ES PM

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