Revista da ESPM Julho-Agosto_2010
julho / agosto de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 45 de clientelismo e corrupção. A ressaca da dé- cada perdida se desfez apenas em meados dos anos 90, quando tardiamente o Brasil adota a privatização de alguns setores da economia, financiados por dinheiro público, via BNDES ou fundos de pensão das estatais sobrevi- ventes. Nossa história econômica é a história econômica dos sucessivos governos. Mentalidade, Estado e governo Uma rápida visão panorâmica de nosso passa- do revela que ao longo de décadas formamos uma mentalidade profundamente dependente dos governos, como forma para enfrentar todas e quaisquer circunstâncias. O Estado tem algumas funções fundamentais, no meu entender centradas na administração e difusão da educação, saúde, justiça e segurança. Cabe ao Estado, também, proporcionar, direta ou indiretamente, a infraestrutura vital para o de- senvolvimento da nação, seja pela construção de portos, aeroportos, seja por estradas, ruas e avenidas. Na direção convergente a estas rubricas devem ser encaminhados e investidos nossos impostos. Pergunto, porém, se é tarefa do Estado ser dono de bancos, companhias de petróleo, telefonia ou universidades? Governos deveriam fazer com que impostos fossem bem investidos e administrar a perfeita aplicação desses investimentos. Aos governos cabe combater a corrupção, fazer com que as pessoas recebam educação de qualidade e estejam capacitadas para atuar em um mundo onde existe muito trabalho e poucos empregos. A sociedade deveria ter acesso a serviços de saúde e aposentadorias universais, e não ser submetida a dois sistemas diferentes e arbitrá- rios, um público e outro privado. O Brasil foi construído por governos que usa- ram o Estado a seu bel-prazer. A lógica huma- nista e libertária de um governo do povo, pelo povo e para o povo foi substituída pela lógica do governo para poucos. O cidadão já não tem mais quem o defenda, tem sim quem o emprega ou tolera sua ativi- dade, desde que pague grande parte de seus rendimentos a esse permissionário. Os governos formaramum raciocínio perverso, são onipresentes. O grande empreendedor privado, que tem acesso às suas benesses, cresce, ainda que fiquem subentendidas suas relações invariavelmente promíscuas. Recai, no entanto, sobre os empreendedores pequenos e médios o clichê detestável de que o empresário é ladrão, se beneficia de vínculos íntimos com o poder, que corrompe e sonega. Seguindo por esta vereda, para impedir a sedimenta- ção do conceito amplamente generalizado, o governo aprofunda seus sistemas de controle, aumenta impostos e turbina recursos para os desafortunados, garantindo assim que os menos favorecidos possam sobreviver a um capitalismo explorador ou desumano. Nosso passado nos mostra que, ao longo de décadas, formamos uma mentalidade pro- fundamente arraigada na dependência de um governo como forma pa- ra enfrentar quaisquer circunstâncias. Jupiterimages
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