Revista da ESPM Julho-Agosto_2010
julho / agosto de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 51 } O que conseguimos fazer no governo do Presidente Fernando Henrique foi trazer toda criança para a escola em todo o Brasil. ~ P a u l o R e n a t o S o u z a de um meio socioeconômico e cultural diferen- ciado. Por que as escolas públicas boas, as escolas técnicas e os colégios de aplicação são maravilho- sos e têm resultados muito bons? Porque fazem o exame de ingresso, pegam os melhores alunos e aí o resultado é bom. Fazer boa escola, pública ou privada, com seleção de alunos é fácil. O difícil é fazer para todos. Aescola pública nãopode rejeitar ninguém,aescolaprivadapode.Aescolatécnicafaz umexame, o colégio de aplicação faz umexame, o Pedro II faz um exame. LUIZ SALES – Mesmo o Pedro II, que é meio público? PAULO RENATO – Ele é totalmente público, é federal, mas faz um exame de ingresso. Então, já seleciona inicialmente osmais dotados, os que têm mais bagagem cultural. O aluno de classe média viaja, vê coisas, assiste a filmes, lê. GRACIOSO – A própria família estimula a informação. PAULO RENATO – E isso não é a realidade, infe- lizmente, das classes menos favorecidas. Este é o problema. A educação tem de redimir as pessoas, mas o sistema educacional atua em condições ad- versas, porque a inércia do sistema é a reprodução do social, não é a transformação social. O grande desafiodaeducaçãoéfazeressatransformação,que foi o que ocorreu emalguns países, como aCoreia, onde todos têm educação de qualidade e se exige do professor e do aluno. GRACIOSO – Recentemente, a UNESCO di- vulgouumestudofeitonoBrasil eemoutros paísessobreoavançoconseguidopelasocie- dade na educação dos filhos em relação aos pais. E aqui, noBrasil, 55%dos filhos obtêm uma formação escolar superior à dos pais. Alguns jornais acharam isto pessimista, acharam esse índice muito baixo. PAULORENATO –Émais,muitomaisdoque55%. Deve haver algumproblema, porque nas estimati- vas que tínhamos quando eu estava noMinistério, essa proporção dos jovens que superavam a esco- laridade dos pais era da ordemde 70%. GRACIOSO –Tambémconheciessesnúmeros, o quemostra que a escola está cumprindo o seu papel, apesar de tudo. PAULO RENATO – Está cumprindo o seu papel, mas os alunos não estão aprendendo o que de- veriam para as séries que estão cursando, isso é verdade. E aí entra o problema do que fazer para melhorar a escola. GRACIOSO – E o que é preciso fazer? PAULO RENATO – Existe uma diretriz geral que deve ser seguida. Temos de organizar a escola em função da aprendizagem dos alunos. E isso nem sempre foi assim. Se você olhar a realidade das políticas educacionais, das reivindicações corpo- rativas no País, muitas vezes se olha mais para o interesse da escola e dos professores do que para o interesse dos alunos. LUIZ SALES – Mas a escola é feita para o aluno. PAULO RENATO – E muitas vezes se confunde esse conceito. É claro que há problemas na questão da remuneração dos professores, mas isso foi sen- do construído por meio de uma relação de certa promiscuidade entre o Estado – como empregador – e os professores. Ao mesmo tempo em que não se concediam aumentos salariais, se concediam outros benefícios indiretos, que têm um custo ele- vado e acabam prejudicando a escola. Chamo isso
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