Revista da ESPM Julho-Agosto_2010

julho / agosto de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 55 } Até o início do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, não tínhamos sequer universali- zado o acesso à educação primária. ~ posto máximo, que é General. E aqui é a mesma coisa. PAULO RENATO – Estamos com uma política que está olhando o desempenho – tanto o re- sultado na sala (que é o bônus em função do de- sempenhodos alunos), quantooaperfeiçoamento do professor. Essa é a situação que temos emSão Paulo. As pessoas comentamque “oprofessor sa- ber não quer dizer que saiba ensinar”. É verdade, mas se não souber... GRACIOSO – A maioria dos professores entendeu o recado, percebem o que está acontecendo, reagem positivamente? PAULO RENATO – Essa é uma pergunta difícil porque eles entendem, mas dizer que estejam de acordo é outra questão. Aí vem a nossa cultura, a cultura brasileira: não gostamos de ser avaliados, queremos que todomundo ganhe amesma coisa. LUIZSALES –Háumagrandequantidadede reclamação emrelação ao preço que se paga nas universidades, no ensino superior. No Brasil, a universidade que o governo dá é de graça, não cobra, mas cobra fortunas de todas as outras coisas, um pouco diferente doqueaconteceemváriospaísesmaisadian- tados. Isso é verdade? PAULORENATO –Vamosentrarentãonaquestão dopúblicoeprivado,superiorebásico.Oresponsá- velpeloacessoatodosnoensinobásicoéogoverno. Noensino fundamental, por exemplo, 90%dama- trícula é pública, estadual oumunicipal. No ensino médio, 88% é pública e no ensino superior, 75% é privada. Acontece que temos umnúmero de vagas limitado nas universidades públicas que, no Brasil, sempre fizeramseleção de alunos, o que considero correto. Mas ao fazer a seleção, você privilegia as camadas mais bem situadas - que têm um back- ground cultural maior -e que emgeral estudaram emescolaparticular. Tambémtêmuma falácia que diz:“Ospobresestudamnaescolapúblicaevãopara universidadeparticular,osricosestudamemescola particular e vão para universidade pública. GRACIOSO – Não é bem assim. PAULO RENATO – Não é bem assim porque os pobres no Brasil, infelizmente, não vão a nenhum lugar. Aproporçãode coberturadoensino superior no Brasil é de apenas 20%; 80% da população não chega à universidade, aí estão os pobres. Se olhar- mos o conjunto do Brasil, independentemente de regiões,vamosverque,proporcionalmente,arenda média dos alunos da universidade pública é mais baixa do que a dos alunos de universidade particu- lar. Isso é algo muito simples porque os alunos da universidade pública estão em todo o Brasil. Já os das escolasparticulares estãoondehápessoas com poder aquisitivo para pagar. É uma redundância dizer que os alunos das escolas particulares têm rendamaior do que os alunos do conjunto, porque os outros estão em regiões mais pobres onde a renda é mais baixa. Essa questão da renda não é uma questão tão relevante. O problema é que a opção do Brasil foi por um ensino público de qua- lidade, diferenciado com seleção de alunos, não foi a opção de outros países latino-americanos, como Argentina e México, onde o acesso à universidade pública é livre. Isso acabou destruindo a qualidade das universidades de Buenos Aires e do México, porque gerou uma massificação. Pode-se discutir oque émelhor,mas o fato é esse e quemsustenta a qualidadenoMéxicoéoTecnológicodeMonterreye outrasparticulares.Vejoaqui,noBrasil,algunspro- blemasnoensinosuperior:nauniversidadepública você precisa exigir mais eficiência, maior número de alunos,mais vagas comosmesmos recursos. A P a u l o R e n a t o S o u z a

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