Revista da ESPM Julho-Agosto_2010

R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2010 56 ENTREVISTA relaçãoalunoXprofessorna universidade pública brasileira é muito mais baixa do que nas boas universidades americanas. Quando assumi eram oito alunos por professor. Eu deixei com 12 e hoje já regrediu novamente. GRACIOSO – Aqui temos a relação de um para 15. PAULO RENATO – Essa é a relação das grandes universidades americanas – umpara 16, emHar- vard. Aqui naESPMse fazpesquisa também, não é só a aula, tema pós-graduação onde a relação é mais baixa. Essa é a questão que temos de exigir mais da universidade pública, eficiência no uso dos recursos públicos. Já no sistema particular, o grande desafio é o financiamento dos alunos, porquehoje, praticamente, toda a capacidade está ocupada. As universidades particulares oferecem – com uma variação de preço muito grande, que também reflete a qualidade – para um mesmo curso de Administração, por exemplo, mensali- dades que variamde R$ 200 a R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil. Temos essas diferenças no País. A verdade é que o setor privado temse adaptado a oferecer as vagas para o mercado dependendo do poder de compra do mercado, mas é um desafio, isso está praticamente esgotado. LUIZ SALES – Aí é uma decisão emi- nentemente de marketing, de qual é o marketing que faço. PAULO RENATO – Não. A pergunta é: qual público quero atingir? LUIZ SALES – Essa é a diferença daquela universidade que cobra R$ 200 reais para a outra de R$ 2 mil. PAULO RENATO – Aí o poder público deveria intervir mais do que intervém, no sentido de dar condições para quem não tem condições de pagar, poder frequentar uma boa escola, com algum critério de seleção. Aqui também tivemos avanços nos últimos anos. Durante o governo do Presidente Fernando Henrique foi criado o FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior e, no governo do Presidente Lula, surgiu o PROUNI – Programa Universidade para Todos. São dois programas que tentam fazer com que as pessoas pos- sam frequentar a universidade particular. O PROUNI é uma solução inteligente e a medida mais acertada que o atual governo tomou na educação, porque ela dá conta desse problema, desviando o assunto da discussão de público e privado. Pela primeira vez na história, o gover- no deu dinheiro para a universidade privada. E foi feito pelo governo do PT. GRACIOSO – O PROUNI realmente foi uma medida inteligente. Parece que estão surgindo alguns problemas, sua taxa de abandono é muito alta. PAULO RENATO – Estão surgindo problemas que precisam ser corrigidos. O que também notamos no País é que essa grande expansão que ocorreu no ensino superior se deu nas áreas mais fáceis, mais baratas, em cursos que não exigem grandes investimentos. GRACIOSO – A área de Humanas, prin- cipalmente. PAULO RENATO – Humanas, Administração, Direito, Pedagogia, áreas que têm uma sala, um professorepoucosequipamentos,mascomeçamos asentir aescassezdeengenheiros, geólogos, biólo- gos, químicos... SalvoaMedicina–ondenãoexiste escassez, se olharmos as médias nacionais, como médico por habitante etc. –, temos problemas, principalmente, nas áreas das Ciências Exatas. O futurogovernodeverásepreocuparcomissoeusar os instrumentos existentes hoje, comooPROUNI eoFIES, para tratar deestimular asuniversidades, inclusive as privadas, a abriremmais vagas nessas áreas e financiar os alunos. Isso em relação ao ensino superior. Em relação ao ensino técnico, é preciso levar emcontaquenãoestámuitonanossa tradição a questão do ensino técnico. GRACIOSO – Ainda temos a tradição da “mão cheia de anéis”. PAULO RENATO – A cultura dos bacharéis. E muitas vezes ter um curso técnico dá mais

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