Revista da ESPM Julho-Agosto_2010

julho / agosto de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 85 Dessa época até 1946, o Itamaraty manteve as mesmas características gerais, ainda que a ad- missão tenha passado a ser feita mais sistema- ticamente por concurso público. Com a gradual expansão do papel da diplomacia para nosso país, foi sentida a necessidade de uma formação mais rigorosa dos profissionais. Criou-se assim o Instituto Rio Branco. É importante notar que, desde então, ampliou-segradualmenteo lequede recrutamento e a carreira passou a ser integrada por jovens de origens variadas, diferentemente do que ocorria no tempo do Barão. Após um concurso de admissão muito difícil, em que se exigia até mesmo um amplo conhecimento de literatura nacional e internacional, o candidato aprovado devia, então, fazer um curso de dois anos de preparação à carreira de diplomata. Nele, além de aprofundar os conhecimentos já exigidos no vestibular, eram ministrados cursos de economia, direito, história, geopolítica e lín- guas. Este rigor da formação cultural permitiu reforçar a qualidade intelectual dos diplomatas. Creio pessoalmente que tão importante quanto a didática do InstitutoRioBranco é o estágio inicial da carreira que, durante dois a três anos,mantém os jovensdiplomatas emfunçãonoBrasil, antesde seremnomeados para postos no exterior. Este é o momento em que passam a receber treinamento prático na organização e métodos do Itamaraty em convívio com colegas mais experientes e gra- duados. Aí completa-se o processo de inclusão do diplomata na cultura profissional da Casa. Tatiana Oliveira Siciliano – na resenha que fez do interessante livro O Instituto Rio Branco e a diplomacia brasileira . Um estudo de carreira e socialização, de autoria de Cristina Patriota de Moura, afirma, muito agudamente, que: “ Os in- divíduos não se tornamdiplomatas quando aprovados no concorrido concurso de admissão do Instituto Rio Branco, mas aprendem a sê-lo através de um longo processo de socialização, transformação subjetiva e formação profissional ”. Apartir daConstituição de 1988, o Brasil tornou- se um país mais plural e mais democrático, com a participação de muitos setores da sociedade. O ministériodasRelaçõesExteriores procurou responder ao desafio criado pelos novos tempos se- guindo a belamáxima criada pelo ministro Azeredo da Silveira: “a melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se”. Ampliaram-se diálogos com os numerosos órgãos de governo federal, esta- dual e mesmo municipal, com organizações não governamentais (em especial nas áreas de meio ambiente, direitos humanos), com as universi- dades, com entidades empresariais, sindicais e científicas. Abriu-se e passou a refletir melhor a diversidade de nosso povo. Essamaior interação coma sociedade brasileira e aprojeção cada vezmaior dopaísna cena interna- cional suscitam questões ainda não respondidas: será possível manter a orientação generalista da formaçãoedoconhecimentodosdiplomatas? Ou será imperativo promover um grau muito maior de especialização, semabandono, naturalmente, de conhecimentos de base? A grande expansão dos quadros da carreira deve levar a menores exigências de qualidade tanto para o ingresso quantoparaaevoluçãoprofissional?Vouprocurar discutir essas questões. PaulinoJoséSoares,Vis- condedeUruguai,visava conduzir o Brasil a um lugar de destaque mun- dial. Assim, uma de suas principais iniciativas foi a de tornar mais funcional a estrutura do Ministério dasRelaçõesExteriores, tarefa que concretizou nas reformas de 1852, em sua segunda ges- tão como ministro, e que permanecem até hoje como o alicerce original de nossa diplomacia. } A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se. ~ A zeredo da S ilveira

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