Revista da ESPM MAI-JUN_2008

Roberto DaMatta 17 MAIO / JUNHO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M hierarquia tradicional da Itália, sob a égide do patronato, do mecenato; senão não teriamexistido grandes pin- tores, uma ciência interessante, uma especulação sobre anatomia, astrono- mia, o início da ciência, misturado commagia...Aqui no Brasil este nosso lado aristocrático, hierarquizado, é muito forte e, pior, inconsciente. Se você pegar qualquer livro escrito sobre desenvolvimento brasileiro vai en- contrar a idéia de que “o Brasil acaba com isso no dia que ficar rico”. Oque vemos é que a diversidade se reproduz também. Voltando à inflação, todos os países que enfrentaram a inflação – o caso alemão é excelente – a saída para a inflação foi o fascismo, nacional socialismo, facilitou a presença de Hitler. OStefan Zweig escreve isso, os alemães estavamprocurandouma lide- rança, queriam organizar-se porque a moeda, numa sociedade capitalista ou semi-capitalista, é umelemento de ordem de primeira grandeza, visível, universal – é como a língua que você fala: tem importância simbólica. No Brasil, como transitamos de uma hiperinflação para um regime de inflação controlada – que continua sendo seguido – e, pela primeira vez, temos uma consistência em termos de política financeira e monetária, que é importante para consolidar a democracia e o igualitarismobrasileiro – igualitarismo é perante a lei e perante amoeda. Como foi feito o Plano Real? Um grande negociador, agora satani- zado, um tal de FHC, negociou, mon- tou uma equipe de economistas, gente de primeira categoria, competente; como você faz na publicidade com uma loja, uma empresa familiar, uma Natura, Boticário (tenho feito palestras nesses lugares, empresas brasileiras que nasceram pequenas e cresceram, como uma padaria de bairro que aca- bou virando a rede do pão de queijo). Se nós acabamos com a inflação, porque você não pode usar a mesma experiência e competência... JRWP – A Veja dessa semana traz um artigo do Stephen Kanitz dizendo que é fácil resolver o problema do trânsito, através de oito regras simples de management . DAMATTA – Mas se você não impõe a razão na base, a modernidade da sociedade brasileira acabaria. GRACIOSO – O país estava em fran- galhos, desesperado, então criou juízo por um momento pelo menos. DAMATTA – Vamos ver até onde esse juízo vai durar. Outro dia fui a “A USP ERA TODA NEO-MARXISTA, COM UM MESMO PENSAMENTO...” Imagem: USP Ð

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