Revista da ESPM MAI-JUN_2008

18 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 Entrevista uma homenagem à equipe do Plano Real. Estavam lá o Malan, o Bacha, Gustavo Franco, o André Lara Re- sende, e o Gustavo Franco lembrou esses números totalmente absurdos a que a inflação chegou no Brasil. Nós tínhamos escravos e capitalismo, mas não havia nada fora do lugar, até o momento em que o equilíbrio entre o baronato do café com leite do Rio de Janeiro e de São Paulo começou a ser erodido pelas classes médias urbanas, e os anarquistas italianos que chegaram aqui em São Paulo com os livros anarquistas de Marx, Pirandello e começarama propagar essas coisas. Esses homens se transformaram em brasileiros, casaram com brasileiros e começou a haver essa erosão... O leite ficou azedo e o café passado. Então temos de fazer uma coisa nova e surge o Vargas e restabelece a hierarquia porque faz um Estado “Novo”. Esse é outro ponto fundamental que não discutimos direito – o diálogo entre a Sociedade e o Estado. Como pensa- mos esse Estado, quais são os limites do Estado, os limites da Sociedade e de que maneira se temuma interlocução e uma interpenetração, que é mais importante ainda, entre Estado e So- ciedade. Uma coisa que esquecemos é que, quem está no Estado, são os nossos irmãos, não são marcianos. Depois da eleição o que temos no Brasil é um Regime Parlamentar, mas quem vai ser o Primeiro Ministro a não ser quem já está lá, ou será que vai aparecer algummarciano? Por isso que o problema do trânsito é interes- sante mas não é totalmente gerencial, porque é um problema de compor- tamento, é o hóspede não convidado, é o recalcado, está fora de discussão; é o nosso comportamento que temos de discutir. Ao mesmo tempo em que queremos a igualdade, também não queremos que o sujeito tome o braço se você só está dando a mão. Como é que se faz? GRACIOSO – Mas este conceito de igualdade de que você fala não tem a ver com a igualdade real. DAMATTA – A igualdade a que me refiro é a igualdade liberal mesmo, igualdade perante a Lei, igualdade no sentido de que se tem uma fila, e a pessoa que está no guichê é meu irmão, meu melhor amigo ou minha namorada, eu não posso fazer um aceno para que elame passe na frente dos outros. GRACIOSO – Mas não tem nada a ver com a existência de mil classes diferentes. DAMATTA – Com a igualdade subs- tantiva, não. GRACIOSO – Isto o Brasil nunca procurou negar, nunca procurou combater. DAMATTA –A pergunta é boa porque é difícil, complexa e teoricamente importante. A igualdade, num certo sentido, é um ideal porque “todos são iguais perante a Lei”. Como diziaToc- queville, “e, portanto, omeu próximo, o outro é uma pessoa igual a mim”, e esse é um ponto importante; não é assim que vemos o outro. Vemos o outro sempre como inferior ou como superior. Se eu posso classificar como “VARGAS RESTABELECE A HIERARQUIA PORQUE FAZ UM ESTADO “NOVO”.” Google images

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx