Revista da ESPM MAI-JUN_2008

31 MAIO / JUNHO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Enrique Saravia técnicas que permitamcontornar esses obstáculos e conseguir uma interação fluida entre essas organizações e pessoas. Thomas e Inkson (2006:34) chamam de “inteligência cultural” a capacidade de compreender os fundamentos das interações culturais, o desenvolvimento de uma postura atenta para essas interações e a ha- bilidade de adaptação a situações interculturais diferentes. O CONCEITO DE CULTURA Quando falamos em cultura e em obstáculos culturais, estamos nos referindo à cultura no seu sentido antropológico. Com efeito, o entendi- mento sobre a cultura é objeto de di- versos conceitos, muitos deles confli- tantes 1 .Tradicionalmente entendeu-se cultura como o conjunto de criações do espírito humano que denotam umprogressivo aperfeiçoamento espi- ritual. Seus produtos são as grandes obras literárias e filosóficas, a música, as artes plásticas, a arquitetura. É o que os alemães denominam Bildung . Eles chamam de Kultur aquilo que a antropologia explica como o con- junto sistemático de valores, crenças, tradições, hábitos, comportamentos e normas que confere identidade a uma sociedade específica. Esse con- junto constitui um código de comu- nicação entre seus membros e reflete o modo concreto escolhido por cada sociedade para organizar, classificar, praticar e transmitir sua experiência 2 . É esse último conceito o que utilizamos para os fins do nosso raciocínio neste texto. É ele que dá base à noção de “identidade cultural” 3 . É possível determinar vários graus de abrangência para a idéia de identidade cultural. Assim, podemos detectar um âmbito supranacional que nos permite falar de uma cultura “latino americana” ou “européia”. É também factível considerar uma identidade nacio- nal que permite individualizar uma cultura “francesa”, ou “mexicana”, ou “japonesa” 4 . Podemos falar, também, de uma cultura regional ou subnacional , especialmente nos países de dimensões ter- ritoriais con- sideráveis. No c a s o doBrasil, há dife- renças cultu- r a i s A s variáveis culturais podem fun- cionar como obstáculos ou como facilitadoras no desempenho geral das organizações e, principalmente, nos entendimentos necessários para chegar a acordos.A idéia central deste artigo é discutir as relações entre em- presas e outras organizações a partir das diferentes bases culturais envolvi- das, bem como as variáveis multi- culturais presentes nas organizações e nas relações interorganizacionais, evidenciadas pela convivência entre indivíduos, grupos, organizações e sociedades. Particular ênfase é dada às características culturais de empresas e empresários e executivos brasileiros. A importância deste assunto deriva do tema genérico da globalização. A intensidade e a velocidade dos fluxos internacionais cresceram nos últimos anos como consequência de fenômenos políticos – como o desa- parecimento do Bloco Socialista; econômicos – a enorme liquidez internacional e o estabelecimento de um sistema financeiro e tecnológico sem fronteiras; e a difusão e aper- feiçoamento dos meios informáticos e de telecomunicação. O sistema comercial tende, tam- bém, à internacionalização, propi- ciada pela Organização Mundial de Comércio – O.M.C. e outros acordos multilaterais. Todas essas causas geram uma troca permanente e intensa entre organi- zações e pessoas que pertencem a culturas diversas. Mas esse contato encontra, muitas vezes, obstáculos sérios para uma comunicação fluida, a maioria dos quais é de natureza cultural. Daí o interesse em analisar o problema e encontrar métodos e O sistema comercial tende, também, à internacionalização, propiciada pela Organização Mundial de Comércio – O.M.C. e outros acordos multilaterais. Ð

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