Revista da ESPM MAI-JUN_2008

35 MAIO / JUNHO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Enrique Saravia Na comunicação entre pessoas pertencentes a culturas diferentes é normal que cada um julgue o seu interlocutor de acordo com o es- tereótipo que ele detém com relação à origem cultural do outro (nacio- nalidade, sexo, geração, classe social etc.). Isto cria obstáculos sérios para o diálogo já que o estereótipo pouco tem a ver, normalmente, com a real personalidade do interlocutor. Com efeito, o estereótipo pode se basear em informações limitadas ou em estereótipos de outras pessoas influentes. As pessoas podem adquirir estereótipos sobre outras culturas – geralmente através de livros, revis- tas e mídia em geral – sem jamais ter conhecido alguém daquela cultura. Ademais, como apontam Thomas e Inkson (2006:72), os estereótipos são perpetuados, pois através de uma per- cepção seletiva, reparamos nos fatos que confirmam nossos estereótipos, mas falhamos em perceber as infor- mações que os contradizem. Como lembra Silva (2005), é bom distinguir estereótipo e imagem, duas noções que na análise cultural con- temporânea estão ligadas à noção de representação, seja como equivalentes com ela, seja como incompatíveis. No estereótipo a complexidade do outro é reduzida a um con- junto mínimo de signos: ele, como objeto de conhecimento, é fixado mediante processos de simplifi- cação e generalização. A noção de estereótipo colide com a noção de representação, já que não existe correspondência entre a realidade e sua representação: ela pressupõe a existência de um sujeito real que é deformado pelo estereótipo. Daí o capital. Mas o fracasso de tais fusões não foi publicado da mesma forma. Calcula-se que fracassaram mais de cinqüenta por cento das fusões realizadas no último decênio (cf. Meier 2004:238, Pane Baruja 2002). E a razão principal de tal insucesso foram os conflitos culturais, seja pelo choque de culturas nacionais diversas, seja pelo conflito de culturas organizacionais dissimilares. Foi o caso da Volkswagen e da Ford que há pouco mais de uma década se uniramnaAutolatina para trabalhar conjuntamente nos mercados argen- tino e brasileiro. AVW dominava uns 40% do mercado e a Ford cerca de 20%. Quando desfizeram o negócio, ambas haviam perdido participação no mercado automobilístico. A fusão e posterior separação de Daimler Benz (alemã) e Chrysler Corporation (norte-americana) tem sido objeto de numerosos artigos e análises. O fato é que os prognósticos efetuados em 1998, na época da fusão, em matéria de aumento da lu- cratividade e da produtividade ficaram Ð esforço dos grupos que são vítimas do estereótipo em contrapor às falsas imagens negativas que são próprias do estereótipo, imagens positivas e verdadeiras. Uma dificuldade semelhante envolve a noção de “imagem”. Assim como o estereótipo seria a reprodução distor- cida da realidade, a noção de imagem pressupõe uma realidade existente que a imagem reproduz. A noção de imagem partilha com a noção de representação ummesmo foco na visi- bilidade e no registro. É possível ver a representação, assimcomo a imagem. As duas noções começama se separar, entretanto, namedida emque a noção de imagem está ligada às de imitação, reprodução, mimese, reflexo, ana- logia, ícone, todas elas expressando alguma forma de conexão intrínseca entre a imagem e a realidade que ela supostamente reflete, reproduz ou imi- ta. Como reflexo, a imagem mantém uma relação de passividade com a realidade. Ela se limita a reproduzi-la. Nesse sentido, a fotografia, tal como comumente entendida, é a imagem por excelência (Cf. Silva, 2005). DIFERENTES CULTURAS DENTRO DA ORGANIZAÇÃO As diferenças culturais aparecemcom clareza e, às vezes, com dramatici- dade, em várias situações que afetam as organizações. Um desses momentos é o das fusões . Nos últimos tempos, a imprensa no- ticiou com destaque a concretização de gigantescas fusões de empresas. Pareceria a confirmação das tradicio- nais tendências de concentração do

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