Revista da ESPM MAI-JUN_2008

42 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 Pensando a diversidade O que essa forma de ação social também envolve, por sua vez, é a incorporação de um importante traço da sociedade brasileira: a diversidade, não só cultural, mas também de classes sociais e estilos de vida e, por que não, de lógicas de vida das chamadas “camadas populares”, as quais parecem se pautar por valores outros que não os das camadas médias e altas. Responsabilizar-se pelos menos fa- vorecidos da sociedade, assim, pode ser entendido como uma maneira de aceitar a diversidade, respeitando-a e incorporando-a ao fazer de cada um: cada empresa, empresário ou funcionário. Por mais que o debate sobre a responsabilidade socioam- biental no Brasil tenha se abstraído até agora desta questão mais ampla – responsabilidade como aceitação da diversidade sob suas mais varia- das formas –, esta é a proposta que este artigo pretende avançar. Os proponentes da responsabilidade empresarial, tal como defendida por uma série de empresas e determi- nadas organizações de empresários (como o Instituto Ethos, a Fundação Abrinq e o Gife), sugerem que tal promoção da cidadania (educação, saúde, segurança, capacitação profissional etc.), e a consequente aceitação do diferente, do subal- terno, dos menos favorecidos, cons- tituem hoje uma dimensão central de toda e qualquer empresa e de seu papel na sociedade. A preocupação com a desigualdade social, assim, está na base de mui- tas das ações empresariais. Uma das empresas que se destacam é a Shell, que define a si própria como uma empresa que “acredita que as empresas podem representar um papel vital na construção de um fu- turo melhor para as pessoas”, e que “as questões sociais, ligadas ou não às atividades da Shell, são parte da preocupação da empresa nos países em que atua”. Esta preocupação, por sua vez, elegeu as áreas-chave da sociedade brasileira para dar sua contribuição: “educação, desem- prego, violência e desigualdade so- cial. Nossa preocupação corporativa concentrou-se na comunidade, no meio ambiente e na cultura”. Outro exemplo é o daVale, que vem trabalhando ativamente para reestru- turar todo seu processo produtivo em torno do conceito de responsa- bilidade social. Toda a produção, comercialização, e relação com a comunidade e o consumidor devem obedecer a um princípio maior: não da busca do lucro primordial- mente, mas do estabelecimento de relações éticas e responsáveis em todas as etapas da cadeia produtiva, afetando funcionários, executivos e empresários, produtores, fornece- As camadas médias e altas não são pautadas pelos estilos de vida das “camadas populares”, para as quais os valores são outros. Por mais que o debate sobre a responsabi- lidade socioambiental no Brasil tenha se abstraído da questão – responsabilidade como aceitação da diversidade sob suas mais variadas formas – esta é a proposta que este artigo pretende avançar. O Instituto Ethos, a Fun- dação Abrinq e o Gife sugerem que tal pro- moção da cidadania e a consequente aceitação dos menos favorecidos constituem hoje uma dimensão central de toda e qualquer em- presa e de seu papel na sociedade. Foto: Constantin Jurcut Google Images Google Images

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