Revista da ESPM MAI-JUN_2008
Unidade e diversidade 49 MAIO / JUNHO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Ð “CLARO QUE É MAIS FÁCIL QUANDO AS PESSOAS SÃO DE UMA MESMA CULTURA.” tura. Mas a diversidade é importante porque traz criatividade, que é algo de que sempre precisamos. Uma empresa não vai crescer se não tiver idéias novas, seja na área de produção, seja no marketing, ou em qualquer outra área. Também acho socialmente justo, em um país como o Brasil, atrair pessoas de vários níveis sociais para dentro da empresa, o que não é fácil, porque existe uma primeira barreira, que é a educacional. Desigualdade na educação brasileira é uma situação de fato. Outro aspecto é a questão entre homens e mulheres. Nos últimos anos vemos as mulheres dando de goleada nos homens em responsabilidade, criatividade... Elas atingem mais cedo um grau de maturidade e produzem resultados. Existem até estudos mostrando que empresas com mais mulheres são mais lucrativas. JRWP – Já que você está se referindo ao feminino, podemos ouvir a Lívia sobre isso... LÍVIA – Existem dois conceitos que se interligam: de desigualdade e outro de diferenças e diversi- dade. Diferenças e diversidade são irredutíveis. Homem e mulher é uma diferença irredutível num certo sentido. A desigualdade surge quando eu tomo uma di- ferença e a transformo em um ele- mento de hierarquização social, como aconteceu com o sexo, a raça e como acontece do ponto de vista econômico. Necessariamente nenhum sistema de diferenças precisaria ser um sistema de desi- gualdade social, mas o fato é que isso ocorre em toda e qualquer sociedade. O que hoje vemos, nesse movimento em prol da di- versidade, de multiculturalismo, é uma tentativa de neutralizar todas as diferenças como siste- mas de desigualdade. Mas como é que nós seremos daqui a algum tempo? Ignorar as diferenças e desigualdades também cria um engessamento social, que foi a ten- tativa do “politicamente correto”. Uma coisa é admitir a diferença e reconhecê-la; outra coisa é trans- formar em desigualdade social; e uma terceira é tentar ignorar as diferenças e agir como se todos fossem exatamente iguais. JRWP – Você falou do po- liticamente correto, como se fosse um modismo? LÍVIA – Não, estou falando de um conjunto filosófico que procura ignorar toda e qualquer diferença. Do ponto de vista ético, a proposta é correta: fazer com que não se transforme nenhuma diferença em desigualdade. Mas não se pode fazer isso ignorando as diferenças na vida cotidiana, porque leva ao engessa- mento da micropolítica cotidiana. GRACIOSO – O sucesso de Barak Obama − pelomenos até agora − tem muito a ver com isso. Ele diz para os eleitores: não me vejam como um negro, diferente de vocês; olhempara o que eu tenho igual a vocês. JRWP – O sucesso do Obama, até agora, seria, de alguma forma, a afir- mação do politicamente correto? LÍVIA – Não exatamente. Ele en- fatiza mais as semelhanças do que as diferenças como propósito político. O multiculturalismo e a consequência dele − que foi o po- liticamente correto − era enfatizar não o direito à diferença, mas a di-
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx