Revista da ESPM MAI-JUN_2008

Mesa- Redonda 50 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 “ELE DIZ PARA OS ELEITORES: NÃO ME VEJAM COMO UM NEGRO.” ferença de direitos. Então criaram-se situações interessantes, do ponto de vista antropológico e do ponto de vista cultural, mas polêmicas. Por exemplo, os Sikhs têm direito de usar o turbante, em face da tradição indiana de cobrir a cabeça, mas se o Estado exige que se use um capa- cete para andar de motocicleta, eles dizem que não podem usar porque já têm o turbante. Em Londres, a corte decidiu que o turbante protege suficientemente a cabeça e não pre- cisaria usar capacete. Mas chegará ummomento em que o problema vai ressurgir, porque haverá novos mate- riais e o capacete será insuperavel- mente superior a qualquer turbante. Como vai ficar essa situação? HERMANO – Gostaria de comentar este assunto sobre mulheres. Omeu lado bonzinho coordena o núcleo de ética das organizações na Fundação Getulio Vargas e o meu lado das sombras coordena o laboratório de produtividade do trabalho. No campo da ética, as mulheres ascen- dem com mais facilidade porque são consideradas mais confiáveis. No campo da produtividade, temos dados que demonstram que, em qualquer área de investimento, as mulheres são mais produtivas que os homens. Ainda não sabemos por quê. Nós só sabemos que é assim. LÍVIA – Eu não sabia que tinha nas- cido com tanto potencial! HERMANO – O que temos observa- do − nesses dois centros de pesquisa que eu coordeno − é uma tensão entre a necessidade de superarmos a fragmentação de um lado e a ambivalência da nossa sociedade mantendo as diferenças. As organi- zações e os estados que melhor têm progredido, nesse sentido, fizeram uma passagem do relativismo, da aceitação das diferenças, para o pluralismo, o que significa conviver com as diferenças sem tentar essa pasteurização, essa homogeneiza- ção forçada por razões administrati- vas ou econômicas. Como é que po- demos deixar de ter automóvel em São Paulo, por exemplo, mesmo que seja irracional? Nós temos o hábito de ver as culturas, as microculturas, em um sentido vertical. Em São Paulo, somos diferentes do pessoal de Nova York, pertencemos a outra cultura. Mesmo nas empresas e nos setores empresariais, temos culturas, formas de fazer: a indústria gráfica tem pouco a ver com a indústria química etc. É sempre em sentido vertical. Mas estamos vivendo uma horizontalização dessas diferenças. Temos pessoas que têm acesso à internet e que vivem o tempo todo na internet; temos as pessoas mais jovens que já convivem com isso desde que nasceram e que conse- guem ler laudas na internet com a maior facilidade, o que para mim é muito difícil. Falam e escrevem uma língua que eles chamam de “basic english”, um treco parecido com o inglês do John Wayne. Isso também repercute dentro das organizações. E no país também. No Brasil, nós temos excelentes profissionais exe-

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