Revista da ESPM MAI-JUN_2008
Mesa- Redonda 54 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 e surgiu uma divisão clara do mer- cado, que já falamos, de “nós” e “eles” como se “eles” fossem alguém, alguma coisa exótica que se precisa conhecer, mas não no sentido humanista, e sim em um sen- tido de curiosidade. Quem são essas pessoas? São pessoas exatamente iguais a nós. Essa é a dificuldade de se ter uma sociedade plural, onde a diferença não é exotizada. Uma sociedade como a nossa, que ainda está caminhando, admite a diver- sidade − mas a diversidade ainda é alguma coisa que foi erigida em diferencial competitivo. Então torna- se exotizada. E não só o pobre foi exotizado, como também as popu- lações negras do Brasil, que nunca foram estudadas como consumido- ras ou cidadãos. Os negros sempre foram vistos como carentes ou como membros de cultos afro-brasileiros − portanto religiões exóticas −; a eles nunca foi dado o papel de partici- pantes da modernidade brasileira. É como se se tirasse deles o poder de serem participantes da criação de uma sociedade brasileira moderna. Acho que esse é um fenômeno que ocorre e continua ocorrendo, e daí esse frisson, esse monte de reporta- gens sobre classes C, D e E. GRACIOSO – Quando o General De Gaulle falou que era complicado governar um país que tinha 387 tipos de queijo diferentes, nunca imaginou atacar a pluralidade cultural francesa. Então, procurou uma bandeira, uma causa capaz de unir os franceses em torno de um objetivo comum.Vocês devem lem- brar da Force de Frappé, da França, como grande potência mundial. Isso acabou unindo os franceses. Acho que esse é o problema que enfrentamos nas empresas. Se não conseguirmos unidade de ação, não vamos ser capazes de competir. Mas também temos de manter viva aquela pluralidade, de onde saem tantos queijos diferentes. O que vocês acham disso? HERMANO – Posso dar um exem- plo simples, da minha área de pro- dutividade do trabalho, do número de empregados que não quer ser promovido, que prefere não ser promovido, porque o ganho salarial não compensa a responsabilidade adicional. São faixas baixas, classes econômicas baixas e isso, em geral, não é considerado nos livros de administração, onde se supõe que todo mundo quer ascender − o que absolutamente não é verdade. Grande parte das pessoas não quer. Na outra ponta, uma consideração entre o que é realmente diversidade e o desinteresse, porque há muita coisa veiculada, que não interessa a essas pessoas, não interessa re- gionalmente... Uma das coisas que vimos nessa pesquisa, que confirma por que os jovens estão indo para o YouTube e abandonando a TV, é o número de informações no noticiário sobre a cidade de São Paulo. No Rio, nós estamos sempre informados sobre todos os engar- rafamentos na Marginal do Tietê. E isso nos assusta, porque nós não sabemos onde fica a Marginal do Tietê. Então essas diferenças, esse centralismo, não é que promova a diversidade, é que não há interesse. E faltam as duas coisas: de um lado a pesquisa, que é cara para ser bem feita e os resultados não são segu- ros; e falta uma reorientação de grupos do nosso ensino, o manage- ment. Nós insistimos bravamente “AOS NEGROS NUNCA FOI DADO O PAPEL DE PARTICIPANTES DA MODERNIDADE BRASILEIRA.”
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