Revista da ESPM MAI-JUN_2008
63 MAIO / JUNHO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Humberto Marini Filho ingênuo do que historicamente, os sistemas políticos vêm e passam, mas o que nunca se vê reduzido é o tama- nho da máquina estatal e seu olhar cobiçoso no interior do cofre que lhe compete guardar. O projeto de Lobato fracassa cada vez que se espia dentro do tabernáculo e, em vez do Santo Graal, encontra-se um cifrão destinado a bolsos impróprios. Não bastasse isso, Monteiro Lobato preconizou o liberalismo econômico quando omundo era dominado pelos totalitarismos, cenário encouraçado contra o qual suas propostas só po- diam se esfacelar. Confiante, varria da estrada os desprezíveis detalhes que entravavam sua utopia extasiada, os olhos fixos no alvo de enriquecer o Brasil e com a economia forte forjar o brasileiro “desenvolvido” (vocábu- lo que talvez usasse se fizesse parte do jargão da época). Lobato alcançou suamáxima pujança de publicista enquanto adido comer- cial nos Estados Unidos, nomeado por Washington Luís. Como seu amigo Oswald de Andrade vislumbrou a Semana de Arte Moderna do alto da Torre Eifell, foi na América do Norte que Lobato descobriu o Brasil. Ao voltar, trouxe intato o vigor em sua bagagem. Embora suas amizades significativas estivessem entre os der- rotados da Velha República, nutria a máxima esperança de prestar serviços à revolução vitoriosa de Getúlio Var- gas. Inepto no jogo das raposas políti- cas, julgou que só a força das idéias bastava. Chegou a recusar a chance de ser o que se chama hoje “ministro sem pasta”, cogitado como foi para criar o Ministério da Propaganda (logo depois materializado por Lourival Fontes como Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP). Na entrevista de 1934 com Vargas, agendada pelo poeta e oficial de gabinete Ronald de Carvalho, Lo- bato só falou em petróleo (como observou, secamente, o presidente em seu Diário). E falou muito, sem- pre sobre petróleo e ferro, não sobre o assunto pelo qual fora chamado. Lobato alcançou sua máxima pujança de publicista enquanto adido comercial nos Estados Uni- dos, nomeado por Washington Luís. Na entrevista de 1934 com Vargas, agendada pelo poeta e oficial de gabinete Ronald de Car- valho, Lobato só falou em petróleo. Ð Ilustração: Spacca
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