Revista da ESPM MAI-JUN_2008
64 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 Deve ter falado pelos cotovelos, considerando-se a sobriedade do interlocutor. Depois, temendo ter sido descortês com o anfitrião, enfiou os pés pelas mãos com uma carta em que, além de tratar com desprezo o projeto tão caro ao presidente, deixa Getúlio Var- gas, virtualmente, na posição de “imbecil”: “ Meditei longamente sobre as idéias que V. Excia. me manifestou, dum serviço de propaganda que determine a entrada de capitais estrangeiros, e cheguei à conclusão de que tudo quanto fizermos nesse campo resultará inútil. Propaganda é palavra de mau sentido.Significa enganar, apresentar fatos sob um prisma sedutor e, portanto, falso. Ocorre ainda que os países que nos interessam possuem um fichário informativo a nosso respeito extremamente preciso, e a nossa propaganda tendenciosa só os fará rir. As razões da fuga do capital residem nos obstáculos que nós mesmos criamos para a sua entrada, e o meio de restabelecer a corrente interrompida está pura e simplesmente na supressão desses obstáculos. Houve uma onda de furor nacionalístico que deixou marcas em todas as leis destes últimos tempos e cujas dolorosas conseqüências temos de pagar bem caro. Essas leis voltaram-se contra o capital e o técnico estrangeiro, como se umPaís pouco desenvolvido como o nosso pudesse fazer qualquer coisa sem eles.Desde que não possuímos capital acumulado nem reservas de técnicos, só podemos nos desenvolver com recursos de fora – como os Estados Unidos fizeram no começo. Trancar-lhes o País, revelar por tantos modos uma acirrada hostilidade e esperar que mesmo assim esses elementos nos procurem contentando-se com a honra de se verem aplicados no Brasil, é forma de pensar que raia à imbecilidade” . (Carta a Getúlio Vargas, 1934). Imagem: Luiz Roberto Nuñesos PADilla
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