Revista da ESPM MAI-JUN_2008
65 MAIO / JUNHO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Humberto Marini Filho Analisados os termos, é perfeitamente sensato dizer que é melhor um país tornar-se forte em vez de fingir sê-lo. E para tanto precisa reconhecer que a economia é internacional. MasVargas, nacionalista ferrenho e já chocando o ovodaPetrobrás, calouedeixoudepen- sar no ingresso de Lobato no governo (onde, é de se crer, bancaria apenas macaco em loja de louças). Durante o Estado Novo de 1937, o escritor continuou disparando sua parafernália de propostas hostis ao estatismo predominante. Teimando em implantar seus projetos pessoais e privatistas, chocou-se com o General Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional doPetróleo, o tal ovode onde sairiaaPetrobrás.Derrotadomassemate- nuar a polêmica, Lobato acabou dando comos costados na Casa de Detenção, em 1941, em nome da segurança na- cional. Ao mesmo tempo, foi proibido deexercer atividades empresariais, bem como de divulgar mensagens naciona- listas, estas cuidadosamente retidaspelo crivodacensura.Eveioaseguiroproces- so judicial. Quando todos esperavam sua absolvição (só faltava o colegiado confirmar o voto individual do juiz- relator), foi subitamente condenado à pena máxima: seis meses de de- tenção. O que houve para uma absolvição quase certa reverter em pena máxima? Duas causas prováveis. Em primeiro lugar, saltava aos olhos que a perseguição a Lobato não vinha exclusivamentedeseuteimosocombate àditaduradoEstadoNovo.Istoerapano- rama interno. Acontece que os rádios de ondas-curtas captavam transmissões (inclusive da BBC de Londres) onde Lobato elogiava a Inglaterra e criticava a progressiva perda da liberdade indi- vidual aqui no Brasil (isto na época em que o governo estava flertando com as potências do Eixo). Emsegundo lugar, três cartas do escritor dadas a público, exultando antecipada- mente com a absolvição, acirraram os Quando todos esperavam sua ab- solvição (só faltava o colegiado confir- mar o voto individual do juiz-relator), foi subitamente condenado à pena máxima: seis meses de detenção. ânimos e firmaram a sentença conde- natória. Numa, agradece ao general Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional do Petróleo, a prisão que tornou possível a um homem tão atribuladoa leiturada Breve Introdução à História da Estupidez Humana , de Walter Pitkin, que lhe deu o “ensejo de observar que a maioria dos detentos é gentedealmamuitomais limpaenobre do que muita gente de alto bordo que anda solta”.Nasoutrasduas, Lobatodiz diretamente aGetúlioVargas: “Atirei no petróleoeacertei nacadeia, oqueprova bemmápontaria”edespede-se sugerin- do ao ditador que jogue os membros do CNP nas fornalhas das sondas, “como combustível para mover as máquinas por uns dois ou três dias” (“O Escândalo do Petróleo”). Acontece que os rádios de ondas-curtas capta- vamtransmissões(inclusivedaBBCdeLondres) onde Lobato elogiava a Inglaterra e criticava a progressiva perda da liberdade individual aqui noBrasil(istonaépocaemqueogovernoestava flertando com as potências do Eixo). Ð Foto:Tim Meijer Foto: Iris Alejandra Avendaño Acero Imagem fornecida pelo Instituto Moreira Salles Google images: Prédio da BBC de Londres
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