Revista da ESPM MAI-JUN_2008

74 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 fato, a intensificaçãodas possibilidades de informações sobre a realidade nos seus mais variados aspectos torna cada vez menos concebível a própria idéia de uma realidade. Talvez se verifique uma ‘profecia’ deNietzsche nomundo dosmassmedia: omundo real torna-se, afinal, uma fábula. Se temos uma idéia da realidade, esta, na nossa condição de existência tardomoderna, não pode ser entendida como um dado objetivo que se situe a um nível inferior, para lá das imagens que nos dão os media. Como e onde poderemos atingir uma tal realidade em si? Realidade, para nós, é o resultadodo encadeamentode relações da ‘contaminação’ (no sentido latino) das múltiplas imagens, interpre- tações, reconstruções que, em concor- rência entre si, ou de algum modo semqualquer coordenação ‘central’ os media distribuem. A tese que pretendo propor é que, na sociedade dos media, em vez de um ideal emancipativo modelado na auto-consciência com- pletamente definida, no perfeito con- hecimento de quem sabe como estão as coisas (quer seja o EspíritoAbsoluto de Hegel, quer seja o homem já não escravoda ideologia, comoMarx), está a surgir um ideal de emancipação que, na sua própria base, reflete oscilação, pluralidade, e finalmente, a erosão do próprio ‘princípio de realidade’”. 8 Está aqui posto um ponto de vista interessante que faz da tecnolo- gia um elemento importante nos processos de transformação social, reivindicando, para a mesma, um papel ativo e transformador. É, de fato, pelo efeito da multipli- cação das vozes e das linguagens permitidas pela difusão da media que se realiza umdesprendimento da realidade e uma discussão do sentido objetivo e unitário da história. Esse acontecimento de desprendi- mento da realidade e de perda do sentido dela é considerado pelo filósofo italiano, de fato, como um aspecto positivo: “Se com a multiplicação das imagens do mundo perderemos o sentido da realidade, como se diz, talvez não seja, afinal, grande perda. Pela sua perversa lógica interna, o mundo dos FRIEDRICH NIETZSCHE Um outro elemento que contribui de forma determinante para a dissolução da idéia unitária de história e para o fim da modernidade, isto é, o advento da sociedade de comunicação. Talvez se verifique uma “profecia” de Ni- etzschenomundodosmassmedia: omundo real torna-se, afinal, uma fábula. Reprodução: Pintura de Marc Chagall Imagem do I Encontro de Comunicação do CEFET-PR

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