Revista da ESPM MAI-JUN_2008
78 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2008 Comunicação Empresarial (Aberje), foi realizada, entre os dias 25 e 27 de março, a segunda edição do Seminário Mídias Nativas. A meta foi promover o debate sobre as produções midiáticas e as narrativas eletrônicas indígenas e da periferia, com a participação dos comunicadores indígenas e produtores culturais da periferia. A primeira edição, em 2006, reuniu comunicadores indígenas e teve uma importante repercussão internacional, o que incentivou a publicação, na Itália, do livro Índiografie, com textos de escritores guaranis, terenas e tu- canos e de pesquisadores brasileiros, italianos e canadenses. Durante o 2 o Seminário Mídias Nativas, participaram a Rede Índios Online, o Canal Motoboy, a Rádio Heliópolis e o Portal Bocada Forte. Também estiveram presentes escri- tores guaranis e da periferia, além de videomakers terenas e algonquinos, do Canadá. Através da apropriação das novas tecnologias digitais, mostrou-se que grupos indígenas e jovens da periferia multiplicam narrativas e produções de conteúdos originais, como também inauguram uma nova cultura midiática e uma nova forma de cidadania, caracteri- zada pela criação colaborativa de conteúdos e pela sua difusão nas redes sociais digitais. Mais que uma “mostra de produções comunicativas”, produzidas por se- tores historicamente marginalizados, o Mídias Nativas significou uma opor- tunidade de reflexão sobre o inédito protagonismo social que supera as tradicionais separações entre centro e periferia. Justamente porque a geo- grafia topográfica, determinada por espacialidades econômicas e sociais, é profundamente modificada pelas tecnologias comunicativas. Sobretudo com o advento das novas tecnologias comunicativas e a sua difusão, entre os povos indígenas e as populações da periferia, tem contribuído para a modificação e para a amplificação da visão nativa de mundo, inserindo tais povos no interior da esfera pública mundial, alterando, assim, significados e distâncias sociais. Portanto, tais transformações dos espaços habitativos e do imaginário social estão permitindo, potencial- mente, um processo de superação do papel histórico de limitação geográfica e cultural dos quais fo- ram constrangidas tais populações, indígenas e da periferia. Do ponto de vista sociopolítico, a difusão dos circuitos informativos e das mídias nativas permitiu aquele processo de “tomada da palavra” que deve ser considerado um dos acontecimentos mais importantes dos últimos anos na América Latina. Trata-se de uma transformação socio- tecnológica, advinda não em con- seqüência de processos políticos ou de importantes mudanças jurídicas, mas em seguida à difusão das redes informativas e de tecnologias de baixo custo. Uma democratizaçãomidiática, silenciosa, mas inexorável, que está alterando profundas distâncias e re- desenhando velhas geografias. Nas “quebradas” das redes digitais surgemnovos sujeitosenovas formasde cidadanias, manifestações de um novo pacto territorial, no qual a relação entre sujeito e território passa a ser construída e manipulada através de interfaces e tecnologias digitais. O território deixa de ser a paisagem e se torna, uma vez distribuído em rede, informações e fluxos alteráveispelosujeitoconectado. Desenvolve-se assim uma nova inte- ração e uma nova forma de habitar, na qual a localidade e as situações sociais são redefinidas tecnologicamente. Abre-se uma nova fronteira dos estu- dos sociais e uma nova era comuni- cativa, na qual, mais que o conteúdo da mídia, são o seu poder de conexão e as performances territoriais que per- mitem constituir o seu diferencial. Do ponto de vista sociopolítico, es- taríamos nos dirigindo rapidamente para um novo tipo de comunitarismo, muito distante das formas representa- Durante o 2 o Seminário Mídias Nativas, participaram a Rede Índios Online, o Canal Motoboy, a Rádio Heliópolis e o Portal Bo- cada Forte. Imagens do site Mídias Nativas
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