Revista da ESPM - MAR-ABR_2008

131 MARÇO / ABRIL DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Hermano Roberto Thiry-Cherques antiga escrita fonética de que se tem conhecimento. Registra uma língua aglutinativa, em que sufixos e prefixos são anexados às palavras, refinando e especificando um léxico abstrato. Os verbos se conjugam de duas formas, transitiva e intransitiva, em uma sintaxe, isto é, em uma es- trutura relacional intrincada. Como fora possível Smith dominar os elementos desta linguagem e as relações que mantinham entre si, era então um mistério. Ele seria desvendado muito mais tarde, pelo suíço Ferdinand Saussure, fundador do estru- turalismo lingüístico. De fato, somente sessenta anos depois daquela tar- de no Museu Britâni- co, Saussure expli- caria como todas as línguas que já existi- ram e podem existir são formadas pelos mesmos elemen- tos, por símbolos, sujeitos, preposições, verbos, códigos, men- sagens etc. A decifração de uma tábua da grande Biblioteca de Assurbanipal é possível porque as línguas e as escritas relacionam estes elementos, constituindo estruturas inteligíveis para qualquer ser dotado de razão, não importando quem, como e quando foi enunciado o conteúdo do que se lê. O motivo do sobressalto de Smith nada tinha a ver com as dificul- dades da decifração, mas o con- teúdo da 11 a tábua. Tendo traduzi- do as dez primeiras tábuas, ele sabia àquela altura que a história do herói Gilgamesh, que precede as epopéias homéricas em 1.500 anos, tinha elementos estruturais similares Mesmo o mais treinado dos assiriólogos pode se enganar. Smith recompôs várias vezes o trabalho. aosdoPen- t a t euco , a parte hebraica da Bíblia. Do relato cons- tava a criação do mundo, com o Éden representado por uma floresta de cedros. Constava também uma cosmogonia em tudo similar a que se pensava ser uma criação dos hebreus. Nada disto era novidade para ele. O que havia surpreendido Smith era o testemunho do que se acreditava ser uma alegoria, um simbolismo. Ð

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