Revista da ESPM - MAR-ABR_2008
132 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2008 As estruturas e George Smith Os matemáticos definem o termo estrutura como umesquema de cons- trução a partir de um ou de vários conjuntos de elementos. Tais ele- mentos se relacionam de uma forma determinada em um dado momento, isto é, devem existir concomitante- mente. A epopéia de Gilgamesh é múltipla, mas não no sentido das Mil e uma Noites, que são vários contos que se entrelaçam em um só. É uma história que se encaixa em si mesma, como as bonecas russas. Compõem-se de conjuntos dentro de conjuntos com elementos que são sincrônicos à leitura, embora relatem a passagem no tempo. Comoemtodaestrutura, hánaepopéia uma regra de formação. Todos os elementos são determinados pelas relações que mantêm com os demais elementos. Não existem elementos isolados. A relação precede os termos e a forma precede o conteúdo. As aventuras e desventuras deGilgamesh são o elo que une e relaciona os con- juntos destes elementos, os episódios, em uma totalidade. Um dos episódios mais sedutores da história conta a saga de Enkidu. Enkidu, diz o texto, foi criado pela deusa Aruru ao soprar um punhado de barro. Ele era o “ente natural”, um selvagem, que se alimentava diretamente nos animais, um ser que tinha pêlos por todo o corpo, que se escondia toda vez que algo se aproximava dele. Um dia Enkidu se tornou humano. Foi assim: uma sacerdotisa, uma prostituta do templo, fez com que ele se enamorasse. Essa mulher amou Enkidu, lhe ensinou a se banhar, a comer pão, a andar ereto. Bastaram apenas sete noites de amor e sete dias de cuidados para que o germe da razão bro- tasse na cabeça de Enkidu e ele se tornasse um homem. Este episódio tem a mesma estrutura da Queda de Adão, só que contada ao contrário. Além de muito bonito, é, também, revelador. Através dele confirmamos a antiguidade da noção de que o que faz a humanidade no homem é a razão, a inteligência. Mas descobrimos dois outros fatos. Primeiro, descobrimos que há mais de cinco mil anos se acreditava que Tendo traduzido as dez primeiras tábuas, ele sabia àquela altura que a história do herói Gilgamesh, que precede as epopéias homéricas em 1.500 anos, tinha elementos estruturais similares aos do Pentateuco, a parte hebraica da Bíblia. Um dia Enkidu se tornou humano. Foi assim: uma sacerdotisa, uma prostituta do templo, fez com que ele se enamorasse. Essa mulher amou Enkidu, lhe ensinou a se banhar, a comer pão, a andar ereto. Bastaram apenas sete noites de amor e sete dias de cuidados para que o germe da razão brotasse na cabeça de Enkidu e ele se tornasse um homem.
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