Revista da ESPM - MAR-ABR_2008

33 MARÇO / ABRIL DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Belarmino Iglesias JRWP – Como é que surgiu a idéia do Figueira? Creio que havia lá uma casa de comércio. BELARMINO – Era uma loja de pre- sentes. Desde que eu era pequeno, meu pai passava em frente e dizia: “Isso aqui é o melhor ponto da cidade para um restaurante”. Fiquei com isso na cabeça. Um dia, passei lá e estava à venda. Tenho sorte. Sorte de estar aqui, num oito de janeiro de dois mil, assinando cheques quando estava todo mundo na praia. Sorte porque, depois, não tendo o que fazer, fui passear na Haddock Lobo. Na verdade, fui ao médico, fazer um check-up, na Alameda Franca. Precisava de um táxi; não encontrei nenhum, e resolvi descer, a pé, a Haddock Lobo. Passei em frente à loja e havia uma liquidação. Vi a loja vazia e pensei “isso aqui não é liquidação, isso aqui está acabando”. Entrei. A Cleuza estava lá e eu disse: “não se ofenda, mas estou procurando ponto para um restaurante”; ela quase me mandou embora, num primeiro momento, mas depois disse: “volta aqui amanhã para a gente conversar”. JRWP – Como é que vocês cuidamda figueira para ela não morrer? BELARMINO – Sou fundador da SOS Mata Atlântica, e eu tinha um medo tremendo que a interferência arquitetônica ma- tasse a árvore ou que houvesse algum problema. Então contratei alguém que, na atualidade, era o melhor biólogo brasileiro – e acho que ainda é, o Ítalo Man- zerela. Temos um biólogo acom- panhando a árvore dia e noite, todo dia - mimamos a árvore, cuidamos dela, que já cresceu não se i quanto por cento, e está absolutamente preservada. Conseguimos também criar com o Ítalo um corpo autônomo, que ninguém pode chegar e dizer “tira um pedaço, vamos fazer um subsolo”. Eu tenho pai que é empreendedor e irmão que é arquiteto, e ele queria fazer um subsolo na Figueira, naquele terreno enorme, para parar os carros embaixo: “Ah, corta um pedacinho das raízes”. Então tivemos a sabedoria de contratar alguém para dizer “não se toca na árvore”. Estou cuidando, a ár- vore está lá, virei fiel depositário dela, que é tombada pelo Estado e pelo Município – me transferi- ram o ônus da manutenção dela – e estou muito feliz porque a árvore é de uma energia única. JRWP – Na sua opinião, o que é melhor: crema catalana ou crème brullée ? BELARMINO – Ou “creme ao leite”; só muda o nome e alguma técnica de cocção, um cozi- nha mais. Mas vou responder que crema catalana é melhor porque é espanhola. GRACIOSO – Você sabe que eu tenho amigos espanhóis que não gostam dos catalães. Você é galego, mas gosta da Catalunha? BELARMINO – Gosto. Acho que os portugueses nos separaram porque o galaico e o português são a mesma língua. Mas a Cata- lunha está dando um show na Espanha. JRWP – Ela é a São Paulo da Espanha. BELARMINO – É meio percursio- nista, o avant premier está lá, na gastronomia, na construção, é um grande país. Eu não gostava, vou con f es sa r, dos ca t a l ães . Agora eu gosto. JRWP – Quando vocês introduzirem pan con tomate no Rubaiyat, acho que não vão ser bem interpretados... os paulistas não vão gostar. BELARMINO – Não tive cora- gem ainda. Era madrilhenho, não gostava. Hoje aprendi a respeitar. É um grande povo. E qualquer dia desses vamos tam- bém oferecer pan con tomate no Rubaiyat. ES PM “O FIGUEIRA É UM CARTÃO-POSAL DA CIDADE.”

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