Revista da ESPM - MAR-ABR_2008

58 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2008 Gastronomia e turismo Estado de São Paulo, não oferecia um único restaurante recomendado pelo mencionado guia” 2 . Outro exem- plo é dado pelos chocolates artesanais, freqüentes nas cidades de montanha (Gramado, Poços de Caldas, Campos do Jordão, Penedo): apesar domarcante desenvolvimento da chocolateria no Brasil, adotando até chocolates com certificação de origem, nessas cidades oproduto turísticoaindaapresentauma qualidade inferior à que se encontra em qualquer supermercado, onde já se en- contram chocolates com mais de 70% de cacau! Parece, portanto, que a gas- tronomia passa ao largo do turismo. Mas, contraditoriamente, a estrutura de ensino superior noBrasil reconhece a interdependência. Hotelaria e gas- tronomia aparecemsempre associadas no plano universitário. Portanto é perti- nente a pergunta: capazes de comprová-la. O raciocínio emque se apóia é que existe uma crise de demanda pela gastronomia local, de sorte que o aumento do mercado consumidor, por si só, se expressa num incremento da gastronomia. O que falta a esta tese é uma clara definiçãode gastronomia .Gastronomia não é comer mais do alimento local. Gastronomia distingue-se da definição simples de alimentação por ser um discurso e uma prática orientados pela maximização do prazer ao comer. Se a busca do prazer está no centro da atividade gastronômica é simplismo reduzi-la ao comer tradicional, local, por contraste com o modo alimentar original do turista. Emgeral, a preocupação gastronômica seorientapelogosto real ou imaginário do turista, introduzindo modificações nos pratos originais. Bons exemplos são a feijoada light, ouo vatapá não tão “quente” que acabou predominando em Salvador, ao menos nos restau- rantes turísticos. Podemos chamar a isso desenvolvimento gastronômico, para horror dos puristas. Já se vê, então, Chocolates artesanais, freqüentes nas cidades serranas, e produto turístico, ainda apresenta uma qualidade inferior à que se encon- tra em qualquer supermercado, onde já se encontram chocolates com mais de 70% de cacau! Parece, portanto, que a gastrono- mia passa ao largo do turismo. Gastronomia não é comer mais do alimento local. Gastronomia distingue-se da definição simples de alimentação por ser um discurso e uma prática orientados pela maxi- mização do prazer ao comer. Que segmento “puxa” a ca- deia de valor do turismo?Aho- telaria, por exemplo, é capaz de determinar as condições de desenvolvimento da gastrono- mia, por meio do aumento dos fluxos turísticos? Ou será ao contrário: comer bem impulsiona a hotelaria, consolidando os destinos turísticos como destinos gas- tronômicos, seguidos pela infra-estrutura? Procuraremos discutir, nesse artigo, al- gumas implicações entreos dois termos da equação. Para efeitos expositivos, caracterizaremos, inicialmente, duas teses antagônicas: a tese ingênua e a tese catastrofista. TESE INGÊNUA: o aumentode investi- mentos em turismo, especialmente em infra-estrutura, gerando aumentos de fluxos, favorece as condições para o desenvolvimentodagastronomia,inclu- siveparadar sustentaçãoàgastronomia local, de caráter tradicional. Esta é a tese subjacente às ações do Ministério do Turismo, ao discurso oficial de várias entidades públicas re- gionais ou locais dedicadas ao turismo. Infelizmente não há estudos empíricos Foto: Bruna Moreschi - Google images

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx