Revista da ESPM - MAR-ABR_2008
59 MARÇO / ABRIL DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Carlos Alberto Dória que o turismo impacta e transforma a culinária local, buscando o equilíbrio com outros públicos. Esta é, contudo, amelhor hipótese, pois é possível ver muitos restaurantes turís- ticos no Vale do Cariri, no Ceará, que simplesmente oferecem no cardápio uma grande variedade de pratos com camarãoe lagosta, trazidos decentenas de quilômetros, ao passo que os pratos ditos “típicos regionais” ocupam um modesto lugar ao pé do cardápio, cer- tamente para os turistas mais excên- tricos. Isto quer dizer que, muitas vezes, o turista viaja com sua própria culinária na bagagem, impondo o seu gosto ao padrão local. Seria mais realista, então, se os órgãos oficiais de turismo reconhecessemque há um conflito, nem sempre explícito, entre a tradição e os hábitos dos ad- ventícios e que o desenvolvimento da gastronomia requer, justamente, explorar essa contradição de modo a encontrar novos caminhos. TESE CATASTROFISTA: o aumento de investimentos emturismo,os aumentos de fluxos,destroema vida comunitária, revogam as tradições, dificultam a identidade local e conspurcama quali- dade gastronômica antes existente. Ao contrário da primeira tese, esta conta com estudos monográficos que buscam comprová-la. A Bahia é uma área privilegiada para esses estudos, visto que é o principal pólo de inves- timentos dessa natureza. Em 2000 ela alcançou uma receita turística de US$ 865,7 milhões, ou 6% do seu PIB. Atualmente encontram-se em fase de conclusão 5 resorts , de capitais portu- gueses e espanhóis, que correspondem a R$ 1 bilhão em investimentos dividi- dos entre aCosta dos Coqueiros, Bahia de Todos os Santos, Costa do Cacau e Costa do Descobrimento. Esse boom turístico foi possível graças a investi- mentos precursores do governo em estradas financiadas pelo BID. Numestudo sociológico sobre Itacaré 3 , (Costa do Cacau), é possível constatar que, após a ligação a Ilhéus, por uma rodovia pavimentada em 1998, começou um profundo processo de Pratos originais. Bons exemplos são a feijoada light, ou o vatapá não tão “quente” que acabou predominando em Salvador, ao menos nos restau- rantes turísticos. Ð Fotos: Daniel Lobo - Google images
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