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Mesa- Redonda 116 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2008 um “me engana que eu gosto”. Por que, na moda, é legal mos- trar alguma coisa que é da Mont Blanc e outra que não é; porque uma esconde uma marca e outra não. Alguns produtos derivados da moda têm a ver com o que é politicamente correto – moda pega ou não pega; cinto de segurança “pegou”, reciclar o lixo ainda não pegou. Talvez “moda seja como Lei no Brasil: há umas que pegam e outras que não”. NIZIA – No estudo que fiz, das dé- cadas, a linguagem publicitária dos Anos 90 – que eu chamei de relação do corpo com a moda – chamava de “Moda Álibi”, porque tudo que era assunto político, como heroína, drogas, campanha do câncer de seio, era “politicamente correto”, tudo era levado para a passarela. Foi uma década politicamente correta no sentido de acolher, por exemplo, filmes iranianos, tudo isso fez parte de um multicultura- lismo, de uma certa abertura, uma crise do neoliberalismo, e tudo isso aconteceu mais ou menos ao mesmo tempo. JRWP – Nós não estamos, tam- bém, falando de um certo con- formismo – tornar todo mundo igual e, por ou- tro lado, do individua- lismo, do desejo de ser d i f e r en t e ? Em nos s a Escola, passo todos os dias pelo pátio, cheio de jovens, que são absolutamente individuais mas se vestem todos iguais. GRACIOSO – Você esquece que os três mil alunos que você vê toda manhã – social e cultural- mente – pertencem ao mesmo segmento. JRWP – E en t ão : as pes soas querem ser iguais ou querem ser diferentes? MÁRIO – Desde bebês, desde crianças, todo mundo busca ânco- ras, referências: a criança pequena se espelha no pai, no tio, na babá, na professora, na televisão, agora na internet. As âncoras hoje estão ligadas ao consumo; na sociedade oriental as âncoras estão ligadas a outros valores – se é que ainda existe sociedade oriental pura – talvez no Nepal, Tibet... Por mais pulverizada que esteja a sociedade, por segmentos, nichos e outros termos tecnológicos de mercado, as pessoas ainda bus- cam um referencial e aí vem a palavra “pertencimento”, como está se usando, fora. Se, há 50 anos, a moda era uma só, há 30 anos virou três, quatro e hoje são muitas. Esse grupo pelo qual você passa, José Roberto, e para quem leciono, é muito parecido – os celulares são parecidos, os cortes de cabelo parecidos, as roupas são parecidas, os filmes que eles assistem são parecidos; para esse grupo homogêneo, deve existir mais centenas de grupos homogê- neos. Em outras palavras, são pes- soas de classe C, B, A, D. Hoje, projetei para os alunos um trecho do filme Admirável Mundo Novo , com as pessoas parecidinhas; mas as pessoas parecidinhas eram as Alfas que eram bem individuali- zadas, os Betas não lembro, mas os Gamas, Deltas e Ipicilones, todos iguais; podemos aumentar dos Ipicilones para baixo e vamos ter as iguaizinhas. O que está acontecendo é que essas pessoas “COLLOR FOI O REPRESENTANTE DA VONTADE BRASILEIRA DE MODERNIDADE.”

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