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Moda e estilo de vida 117 SETEMBRO / OUTUBRO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M iguaizinhas, hoje, são uns Grupi- nhos ou Grupelhos – o nome que se queira usar – é em número muito maior do que antigamente e, ainda, voltados para fora. E isso é que gera essa infelicidade. E eu lido com duas áreas opostas: uma é a espiritualidade, por causa do doutorado em teologia, e a outra é o consumo, que é a minha área aqui na Escola. Conciliar ambas é, relativamente, difícil. GRACIOSO – Em qual dessas áreas você mente o tempo todo? MÁRIO – Em ambas. Mas essa sociedade – que nos oferece essa multiplicidade de produtos mara- vilhosos – é fantástica. Acho que ninguém pode maldizer o iPhone. E aí vem o pessoal de extrema esquerda e diz “isso é coisa de pequeno burguês”. Quem vai para Miami acha que é um sinônimo de uma cidade só de compras e não é – é uma cidade muito bonita. Quer dizer, colocamos no mesmo cesto as maravilhas. Nunca vi alguém de extrema es- querda que preferisse viajar em classe econômica. Todo mundo quer viver bem, com conforto. Mas incomoda-me que essa mul- tiplicidade maravilhosa não leve as pessoas a serem mais felizes, como a Cláudia bem colocou. AMÁLIA – Você falou sobre di- ferenças entre o Oriente e o Oci- dente. No Japão, hoje, tem fila de espera para comprar uma bolsa Louis Vuitton de 20 mil dólares. O show da Madonna, que vai acontecer só em dezembro, em meia hora na internet, os ingressos esgotaram-se – todo mundo quer ser igual à Madonna e todo mundo quer ter uma bolsa Louis Vuitton. E o japonês é oriental. O chinês fez, agora, a Olimpíada, e tudo o que lá estava era consumo puro, na flor da pele. E eu pergunto: quem está interferindo no que e em quem? A sensação que tenho é que acabou o país, acabaram-se as fronteiras; hoje, se não está na internet, não aconteceu; antes de lhe conhecer quero saber quem é você na internet, qual é o seu e- mail, qual é o seu orkut – ou pior: “Eu vou te googlar”, que significa que eu vou ver tudo que já acon- teceu na sua vida, independente da classe, para saber se tem coisa boa, coisa ruim, quero saber o que aconteceu. As pessoas querem aparecer, querem tornar-se especiais dentro da Pirâmide de Maslow. GRACIOSO – Ou então, elas querem fugir à realidade. CLÁUDI A – Também s e e s - conder. NIZIA – Acabo de ler um livro interessante – “Trendy, sexy et inconscient” – de Pascale Navarri. A autora estabelece uma relação entre o tempo interno dos indi- víduos e as respostas que buscam na moda, seja submetendo-se a ela em face do reconhecimento coletivo, seja transgredindo e ace- lerando o ritmo da moda, dando primazia a impulsos freqüente- mente inconscientes. A pessoa vai num crescendo, da melhor bolsa, da viagem mais exótica, e cor- rendo, também, atrás da juventude eterna que é o grande mito, e isso acaba por gerar o excesso. Quer dizer, não se pode falar na “justa medida” que é uma coisa batida, mas tem essa busca pela perfeição. Então, há uma busca de perfeição, seja colocando a bolsa, seja fa- “A CAUDA LONGA NÃO É, NECESSARIA- MENTE, UMA DEMOCRATIZAÇÃO.”

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