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Mesa- Redonda 118 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2008 zendo a plástica que é exterior a si, que está na bolsa, que está na própria plástica... JRWP – Quer dizer, há um modelo para essa perfeição. NIZIA – Já vi, num cabeleireiro, uma senhora dizer que ela era obra do cirurgião tal... Ou são as plásticas de seios. É um objeto, não é mais ela, há uma desapro- priação, uma alienação de si mesmo nesse movimento, e isso é que, provavelmente, produz esse vazio. AMÁLIA – Esta pode ser uma nova indústria, que estou perce- bendo – porque estou entrando nela também – que é a chamada indústria do Bem-estar, em que a pessoa vale pelo que tem por dentro, a beleza que vem de dentro. Isso também vai virar moda: “vamos esquecer essa coisa de beleza porque agora chegou a um patamar que já está sendo criticado”. O silicone é criticado, o botox é criticado. O que vai entrar na moda agora é ser uma pessoa zen, alguém equ i l i brado cons i go mesmo , dentro do seu ambiente, num habitat “mais natural”. E isso nada tem a ver com o “eco-chatismo”, mas sim com poder enve- lhecer com dignidade. Um pouco no sentido contrário do que estamos falando, há uma turma bacana, que está entendendo que tudo isso tem de ser revisto. Gente que está envelhecendo mais cal- mamente, e que não está sendo vista, porque a moda não está interessada, ainda, nesse grupo – mas esse grupo é um grande formador de opinião. NIZIA – Há os Novos Urbanos, que são ricos, mas jovens, e que ditam essa moda natural. JRWP – Ao tratar do tema Moda e Estilos de Vida, estamos também falando de felicidade e infelici- dade – essas coisas estão assim ligadas? GRACIOSO – Creio que uma das explicações para a existência da moda é, justamente, esse meca- nismo de fuga que ela propor- ciona. Por exemplo, na Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos, conversei com um lojista local que vendeu para moças, filhas dos boiadeiros, botas de montaria com aplicações de ouro e brilhantes que custavam R$ 30.000 o par. JRWP – Mais caro que as bolsas Louis Vuitton... PAULO – Será que a gente não está se atribuindo o direito de determinar o que é a felicidade do outro? Nós temos duas coisas distintas: uma coisa é uma so- ciedade nervosa, agitada e num processo de mudança contínua onde “a vida é líquida” – citando um livro bastante interessante – e que essa instabilidade permanente deixa as pessoas muito inseguras e tensas, diferente da realidade estável que se tinha antes, em que as coisas não mudavam. Essa mu- dança constante e permanente nos deixa absolutamente inseguros. Tudo isso é característica da socie- dade moderna. Será que a busca dos grupos de identidade não consistiria, justamente, na busca da felicidade e que seria uma posição arrogante e autoritária da nossa parte dizer que, ao pertencer “QUEREM MATAR O CIGARRO OU OS FUMANTES?”
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