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Moda e estilo de vida 123 SETEMBRO / OUTUBRO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M feita no mundo todo, onde se perguntou às pessoas o que era importante para elas, sob todos os pontos de vista: dinheiro foi o número sete, reconhecimento foi o número um. Se isso for verdade como parece ser, a pes- soa vai buscar reconhecimento em qualquer setor da sua vida, tenha ou não hedonismo a ver com o que ela está fazendo; ser reconhecido pela sua tribo, pela sua família, pelo seu chefe, pelos seus pares é muito importante. Mesmo que, na grande maioria, as pessoas sejam formadas para serem empregados, para terem emprego por conta da segurança, por conta daquilo que ela acha que vai dar perenidade à sua segurança, ela precisa ser reco- nhecida, alguém tem de dizer a ela que ela “vale” alguma coisa. Madre Teresa de Calcutá dizia: “se uma pessoa estiver sentada numa sala e outra entrar e não disser a ela bom dia, aquela pes- soa não existe; a pessoa só existe se você permitir a ela existir”. O que quero dizer com isso é que o estilo de vida interfere o nosso comportamento sim, se você definir que o seu estilo de vida vai ser um, e que a moda interfere no seu estilo de vida, ou seja, é uma retro-alimentação que – dependendo da perso- nalidade da pessoa – o quanto ela está construída dentro dela, afetará mais ou menos, alterando a sociedade como um todo. MÁRIO – Um filósofo chamado George Berkeley – que deu nome a uma famosa universidade – que dizia “ser é ser percebido”. NIZIA – Ao mesmo tempo, o inferno são os outros. PAULO – Relendo a sua questão eu diria que é quase como se perguntasse: “O homem tem livre arbítrio, o homem é um ser livre”? Minha experiência, em pesquisa de mercado, é uma manifestação externa do que realmente faço, que é estudar o comportamento humano. Então, o que vejo, claramente, é que as pessoas aderem àquilo que tem ressonância dentro delas de um modo ou de outro. Mesmo essas manifestações que nos parecem descoladas da realidade, essa moda extremada com preços altís- simos, a moda do luxo de pessoas aparentemente descontroladas, na verdade, é só uma manifestação de um pequeno pedaço da so- ciedade, que vive num estado de exuberância monstruoso onde você pode ganhar cinco milhões de dólares, participando de uma luta, ou vinte milhões correndo de carro num determinado ano. Isso canaliza uma riqueza na mão de um pequeno número de pessoas para quem vinte mil dólares por uma bolsa é simples troco... Eu res- ponderia à sua pergunta de forma um pouco mais categórica, ad- mitindo menos essa interferência múltipla dos dois lados. A moda existe como reflexo da sociedade em que vivemos, efetivamente, na qual acabamos determinando a direção e o sentido; e mesmo esses trend-setters ou estilistas – que achamos que determinam a moda – são pessoas antenadas às tendências da sociedade, que conseguem captar os menores sinais de para onde a coisa vai, para que – ao captar esses sinais – ele traduza isso para aquela sua área de negócio e se aproveite da tendência que já existia na sociedade. A minha visão é de que a moda ou os estilos são, de fato, reflexos do momento vivido pela sociedade na qual estamos. As pessoas que achamos que “criam” a moda apenas captam, antecipadamente, as tendências que vão florescer na sociedade e as multiplicam na mídia. GRACIOSO – Um pensamento ocorreu-me, mas não contradiz nada do que foi dito aqui. Sou, basicamente um criador, pois fui redator a vida inteira. Como criador, identifico-me com os que criam a moda. Neste trabalho, há duas etapas: a primeira é a desco- berta e a segunda é a invenção. Você não consegue inventar se não descobre, antes, a oportu- nidade que vai preencher, que vai ser aproveitada, e eu acho que moda é exatamente isto. Na primeira etapa, a descoberta consiste em encontrarmos, na alma humana, os pontos vitais, os sore spots , como dizem os americanos – que mais precisam ser acariciados por um produto ou serviço como o nosso –, e então criar em função desses pontos. Se o sore spot é a menina que precisa de uma bota com aplicação de diamantes, e ela pode, vai pagar qualquer coisa para ter a sua botinha. Isso é o que eu queria dizer, nada mais. ES PM 1. “A edição do corpo: tecnociência, artes e moda”. São Paulo: Estação das Letras, 2007. NOTA

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