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142 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 Ponto de vista O ANDREA DANTAS A ES PM Idéia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inven- tou.” “Uma moda que não chega às ruas não pode ser chamada de moda.” Com a primeira afirmação, a inglesa Mary Quant, apontada freqüentemente como a inventora da minissaia, não deixa dúvida: o estilo de vida influencia a moda. Já a frase da estilista francesa Coco Chanel trafega na mesma via, em direção oposta: a moda influencia o estilo de vida. A troca entre estilos de vida e moda, moda e estilos de vida, acompanha a história da hu- manidade. Moda é mais do que um fenômeno cultural; ao mesmo tempo em que é influenciado pelo contexto social, político e econômico, também influencia comportamentos e esse mesmo contexto. Basta lembrar que, ansiosos por liberdade, os jovens dos anos 60, que queriam tanto se desprender do passado e dos cânones vigentes, acabaram criando outro: a moda era não seguir a moda. Usar minissaia, para milhares de jovens, era ser transgressor, era, se opondo às saias compridas usadas por suas mães e avós, ir contra a filosofia das gerações mais velhas. Mary Quant percebeu e soube tirar proveito disso. Estilistas poderiam ser considerados uma espécie de antropólogos, psica- nalistas, futuristas e historiadores. Os bons de verdade sabem interpretar um desejo que a maioria das mu- lheres ainda nem sabe que tem. Não foi isso que fez Christian Dior com seu New Look de saias volumosas no pós-guerra, no final dos anos 40, ao devolver às mulheres, depois de anos de escassez, o glamour, o otimismo, o sonho e o luxo? E foi sua moda que resgatou a alta-costura, atraiu ameri- canos ricos e recolocou a França, que tinha visto o nazismo fechar suas ‘maisons’, de volta ao panteão mundial da alta-costura. A receita prescrita por Dior – luxo para combater a depressão – é, até hoje, a favorita das classes mais favorecidas. E das classes menos favorecidas, tam- bém, pois com as lojas de fast-fashion espalhando-se, rapidamente, é fácil ter acesso a pelo menos um pouco do luxo que enche as páginas da Vogue America e os olhos das mulheres do mundo todo. Do mundo todo mesmo: até os de mulheres de (outrora) re- motos países asiáticos, como o Afega- nistão, onde a moda e o desejo que ela constrói fazem mulheres usarem grifes famosas por baixo de suas bur- cas e, pouco a pouco, reivindicarem mais liberdade... A história está repleta de exemplos da força propulsora da moda. Nos anos 20, livres dos espartilhos do século XIX, as mulheres da era do jazz – as melindrosas – buscavam vestidos soltos, mais curtos, braços à mostra e total conforto para dançar o Charleston. É possível imaginar o mundo contem- porâneo sem calça jeans? Quando os imigrantes Levis Strauss e Jacob Davis, em 1800 e alguma coisa, resol- veram transformar em roupa as lonas que eram usadas nas barracas, para criar um vestuário resistente, logo adotado pelos mineradores do oeste americano, jamais imaginaram que sua invenção ganharia tantas grifes e status. Muito menos que chegaria o dia em que se pagaria mais, muito mais, por um jeans ‘grifado’ todo ras- gado e com aparência de velho. Sim... na moda existem gostos e gostos. Como dizia Mademoiselle, “a moda reivindica o direito individual de valorizar o efêmero”. Mas isso já é uma outra discussão. ANDREA DANTAS Diretora de Comunicação da NIdéias M D A ESPELHO DA HISTÓRIA “ Irum Shahid Divulgação Ads by Google

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