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Moda e estilo de vida 20 R E V I S T A D A E S P M – SETEMBRO / OUTUBRO DE 2008 A cópia e os esforços de demarcação de espaço social entre os diferentes segmentos é justamente a força por trás da dinâmica da moda. Herbert Blummer é outro autor que prossegue na mesma linha dos anterio- res, emboramodifiqueopapel atribuído às elites. Para ele, como para Simmel, a moda é uma forma social que existe independentemente das atividades e conteúdos contextuais de modas. Mas Blummer se diferencia de Simmel pelo papel que ele atribui às elites. Segundo ele, a moda dos grupos de elite não é determinada pela inovação destas na busca por diferenciação, pois não se encontra fora do processo da moda. Elas são elites porque seus membros são os primeiros a perceberem em que direção a moda vai. “Não são as elites que fazem um design fashionable , mas é o potencial fashionable desse design que o torna moda e que permite que o prestígio da elite lhe seja associado.” É pelo comportamento de imitação das demais classes sociais que as elites se reproduzem. Nesta perspectiva, as elites e as relações de classe não pré-existem ou são predeter- minadas, mas são constituídas pelo próprio processo da moda. Outro autor que percorre caminhos semelhantes, articulandoomesmocon- juntodecategoriaseprocessos sociais, é osociólogofrancêsPierreBourdieu.Para ele, a moda funciona como um código que permite a diferenciação social – no sentido de distinção, de superioridade – ao acionar mecanismos diferencia- dores em termos de gosto, identidade social ecapital cultural.Tomandocomo referênciaempíricaocampodaaltacos- tura, queeleconsidera, estruturalmente, semelhante ao campo da produção cultural demodogeral, Bourdieuafirma que o campo da moda é caracterizado pela luta entre atores dominantes e dominados e os novos que entram. “A lutapermanenteno interior docampoé o motor permanente do campo. Aque- les que lutam pela dominação fazem com que o campo se transforme, se reestruture constantemente.” E a força da moda reside justamente na fé que os membros do campo depositam nas criações desse campo. Autores contemporâneos como Gilles Lipovetsky e Stuart Ewen enfatizam o caráter individualizador e a lógica individualista que orienta a moda atualmente e a ausência de grupos de referência que sirvam de espelho para os demais. Para Ewen a questão seria: “que moda? Hoje só existem modas” enfatizando a perda de espaço de um gostocoletivodemoda,comoenfatizava Blummer,eaomesmotempoaausência de enraizamento nas variáveis sociais das escolhas individuais. Lipovestky, por seu lado, sinaliza para uma ética do self , na qual o bem-estar pessoal e a satisfaçãoestéticadosujeito, emrelação asimesmo, torna-semais importantedo que a opinião dos contemporâneos. Parafinalizar,Davis, inspiradonosemio- logista Roland Barthes, argumenta que o vestuário é um código – um voca- bulário visual. Cada vestimenta possui muitos diferentes significados e pode seexpressar diferentementequandoem distintoscontextos sociaisecombinados a outras vestimentas e acessórios. Mas, ao contrário da língua, o código não é explícito, é ambíguo. A moda é a mudança nesse código. No início do seu ciclo ela se apresenta como um código estético, porque ainda é nova e não difundida pela sociedade. Quando essenovocódigosedissemina, eladeixa de ser estética e passa a ter um apelo de massa, que se configuraria como absolutamente antiestético. Mas para Davis a principal função da moda é fixar a instabilidadeda identidade social coletiva que oscila entre diferentes tipos de tensões, que ele chama de ambigüi- dade, do tipo homem/mulher, velho/jo- vem, pobre/rico. Neste sentido, ele se aproximadateoriadeBlummerdegosto coletivo e se distancia do fenômeno de trickle down de Simmel. Na esteira da idéia de modas, Davis nos lembra que as teorias anteriores não levavam em consideração o policentrismo, nem o pluralismo da sociedade contem- porânea, dois mecanismos propulsores da seleção da moda seguinte. Todas essas teorias de moda suscitam algumas críticas e reflexões. Por exem- plo, o mecanismo de imitação e inveja reduz o processo de mudança, a sua dinâmica, além de não deixar qualquer espaço para a inspiração. A relação de imitação entre grupos de elites e subal- ternos – ou de distinção – os destitui de QUANDO ESSE NOVO CÓDIGO SE DISSEMINA, ELA DEIXA DE SER ESTÉTICA E PASSA A TER UM APELO DE MASSA, QUE SE CON- FIGURARIA COMO ABSOLUTA- MENTE ANTIESTÉTICO. Foto: Irum Shahid
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