Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 17 } Se um cidadão comum pode ter acesso, sem qualquer tipo de pagamento, a essa informação, ele obviamente não vai pagar por ela, e aí não se reconhece o valor daquela produção. ~ J u d i t h B r i t o GRACIOSO – Aí entra a questão dos direitos autorais. JUDITH – As notícias reverberadas têm audiência porque passam pelo filtro da credibilidade. É diferente de um boato ou uma crença. Existe um projeto editorial, um modelo de negóc io. Respondemos pela produção desse conteúdo, inclusive cr iminalmente. É esse reconhecimento que discutimos no Congresso Brasileiro de Jornalismo. O grande tema do congresso foi a democracia, que nasceu com a liberdade de expressão e precisa dela para que o Es- tado não tome o controle da opinião, como temos observado na Venezuela. Quando se tem uma produção única de opinião, sem o respeito à pluralidade, fica difícil ter a di- versidade de opiniões, que é algo saudável. A mídia independente é parte fundamental da democracia, já dizia o escritor francês Alexis de Tocqueville. “A liberdade de ex- pressão, nas democracias sérias, é cláusula pétrea e se sobrepõe a tudo” – como, aliás, pontuou o Ministro Carlos Ayres Britto, quando deu o voto de consenso na queda da Lei de Imprensa. GRACIOSO – Sobre esse aspecto, o ad- vento da Internet contribuiu para dar ainda mais força aos jornais, ajudando a espalhar as opiniões defendidas. JUDITH – Do ponto de vista da audiência, concordo plenamente, porque os jornais nunca tiveram tanta audiência por conta dessa reverberação. Mas nossa questão é anterior a isso. Se um cidadão comum pode ter acesso, sem qualquer tipo de pagamento, a essa informação, ele obviamente não vai pagar por ela, e aí não se reconhece o valor daquela produção. ELISABETE – Com relação à liberdade de imprensa, hoje temos o Judiciário interferindo nessa questão. Qual a sua avaliação sobre isso? JUDITH – Em relação à defesa da liberdade de expressão promovida pela ANJ, esse é um dos nossos grandes problemas, especialmente nas decisões de primeira instância que, muitas vezes, promovem a censura prévia – um exem- plo é o caso do jornal O Estado de S. Paulo . Não temos ainda uma homogeneização do entendimento da decisão do STF. Então, es- tamos tentando estabelecer um diálogo com o Judiciário em todo o País. No Paraná tivemos um encontro importante com os magistrados e pretendemos levar essa experiência para todo o Brasil. Nossa intenção é mostrar a importância do jornalismo livre, com todos os problemas que isto acarreta, mas como já disse o pensador da democracia: “Não é um sistema perfeito, mas é o melhor que se conseguiu inventar”. GRACIOSO – O jornalista Thomaz Souto Corrêa tem uma frase curiosa: “Todo dia morrem mil leitores de revistas e nascem 10 mil usuários da Internet”. JUDITH – Costumo dizer que meus filhos já “nasceram digitais” – nós nascemos analó- gicos e eles digitais. A experiência deles com equipamentos é uma coisa absolutamente diferente, ainda que tenham interesse pela informação de qualidade. Atualmente, com- petimos com uma quantidade colossal de in- formações e, sem dúvida, é a maior revolução que temos.

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