Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 18 } Antigamente, tínhamos a produção da informação, com um produtor e um receptor. Agora, temos um modelo no qual todos são produtores e receptores. ~ } Não consigo acordar sem pegar o jornal. Leio to- dos os jornais porque essa é a minha experiência, mas não acho que essa mesma dicotomia seja válida em um futuro próximo. ~ ENTREVISTA GRACIOSO – Hoje, os próprios jornais são mais informados, se aprofundam mais na informação. JUDITH – O Otavio Frias Filho sempre disse que “temos essa equação para resolver, mas também precisamos mostrar a nossa compe- tência”, ele chama isso de “equação darwi- niana”, onde os competentes sobreviverão. As pessoas costumam dizer que o jornal não morreu quando o rádio surgiu e que ambos não morreram quando a TV surgiu. Mas estamos falando de outro tipo de revolução. Antiga- mente, tínhamos a produção da informação, com um produtor e um receptor. Agora, temos um modelo no qual todos são produtores e receptores. A intercomunicação é global, é outro mundo. Talvez as pessoas não tenham percebido essa mudança, que é qualitativa e não quantitativa. GRACIOSO – Isto vale para todas as idades? JUDITH – Os dados mostram que a Inter- net tem penetração em todas as faixas – por diferentes razões e aptidões. Hoje, estar fora da Internet é estar fora do mundo. E esse fenômeno de que as crianças estão nascendo com essa facilidade de acesso ao meio digital é uma realidade. Tem o lado positivo do acesso mais amplo à informação. Mas o que estamos expondo é outra questão: Como manter um modelo que pressupõe a independência? O jornalismo independente não pode estar atre- lado ao financiamento ou a governos. Muitas vezes, contrariamos interesses de empresas que são nossos anunciantes e precisamos ter essa independência, essa pluralidade, pois temos de pensar o jornalismo como algo de interesse da sociedade. GRACIOSO – Sob o ponto de vista econô- mico, como dar sustentabilidade à im- prensa escrita marcada pelo fechamento em série de grandes jornais e revistas? Como atrair e manter gente boa, que vai fazer os jornais do futuro? JUDITH – Isso exige investimento. Não tem segredo. É um negócio. Ainda que tenha procedimentos, regras e princípios rígidos, continua sendo umnegócio. E precisa ser assim para que a independência seja mantida. Essa é a discussão que precisamos ter e num ritmo veloz, porque os fatos estão se acelerando e temos de lidar com essas novas linguagens. Antes, nossa grande questão, do ponto de vista da distribuição, era o preço do papel e a gama de possibilidades dentro de uma negociação comercial. Agora estamos falando de outra indústria, temos de negociar com grandes empresas de telefonia que, muitas vezes, com- petem conosco. É como se a Folha de S. Paulo fosse detentora da única fábrica de papel do

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