Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 19 } Quanto mais alto o poder aquisitivo maior é o consumo de informação e, consequentemente, de informação jornalíst ica. O que precisamos agora é aumentar a qualidade do ensino. ~ País e todos os demais jornais só pudessem comprar dela, por exemplo. GRACIOSO – É o que acontece na Argen- tina, onde o governo controla a única fábrica e decide quem pode comprar. JUDITH – Esse é um exemplo excelente. Como um jornalismo de credibilidade e con- fiabilidade pode suportar isso? O fato é que estamos mudando o paradigma, inclusive no que se refere à distribuição. Cada grande empresa de telefonia tem também um portal ou um produtor de conteúdo. É um mundo complexo. Passamos a discutir questões que nunca fizeram parte do nosso mundo, como a neutralidade de rede. GRACIOSO – Como você gostaria que fosse o perfil dos jovens que serão recrutados para o jornalismo nos próximos anos? JUDITH – Nessa mudança toda, esse é o único ponto que permanece: não mudamos os va- lores. Os jovens devem estar engajados com os princípios básicos do jornalismo: isenção; aderência a todos os princípios da investigação jornalística; humildade para reconhecer os erros e oferecer a possibilidade de resposta. Claro que se agrega a esse conjunto de valores a habilidade com as novas mídias. Isso é um complemento técnico. Mas o coração do jor- nalismo e os valores que ele tem de perseguir não mudam. O bom jornalista continua tendo os mesmos princípios. GRACIOSO – Respeito à verdade e à ética. JUDITH – Exatamente. Uma coisa boa também no cenário do País, apesar de todas as questões, é o aumento do nível médio de escolaridade. Isso para o jornalismo é algo saudável. Quanto mais alto o poder aquisitivo, maior é o con- sumo de informação e, consequentemente, de informação jornalística. O que precisamos agora é aumentar a qualidade do ensino. GRACIOSO – Tem duas funções que reco- nhecemos no jornal: informar e cruzar informações, interpretar e ajudar o leitor a compreender o que está acontecendo. O que será mais importante para o jor- nalismo do futuro? JUDITH – Essas são duas funções funda- mentais que os jornais oferecem. Uma coisa que estamos observando, também por conta das mídias digitais, é que o jornal precisa se repaginar, ser mais atraente e oferecer a in- formação num formato mais rápido, conciso e chamativo. Ter habilidade de atrair mais o leitor com uma comunicação instantânea. Mas isso é uma mudança na forma. O conteúdo precisa continuar sendo aquele no qual se investe mesmo. Muitas vezes é necessário passar meses investigando uma pista que vai se revelar completamente infrutífera. E isso exige recursos. Temos de buscar a informação esteja ela onde estiver, mesmo quando o seu investimento não tem resultado. ELISABETE – Se pensarmos no digital, fica mais fácil, por ser uma informação mais compacta sobre o acontecimento do que no papel, onde a matéria vai ser mais detalhada ou a questãomais aprofundada . JUDITH – Isso é verdade. Não consigo acor- dar sem pegar o jornal. Leio todos os jornais porque essa é a minha experiência, mas não acho que essa mesma dicotomia seja válida em um futuro próximo. Tanto a informação de qualidade quanto a informação mais “rasa” J u d i t h B r i t o
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx