Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 24 fazem parte dela. A história que você deve, obrigatoriamente, conhecer é a história do jornalismo. Ou melhor: como o jornalismo vem mudando o mundo antes mesmo de chamar-se jornalismo. O imperador-filósofo Marco Aurélio (161-180 da Era Comum), sistemati- zou a comunicação pública e criou as Actas Diurnas afixadas em lugares públicos de Roma e copiadas para os que viviam nas províncias. Os redatores ou copistas chamavam-se de diurnarii algo como diaristas ou jornadistas. Soa familiar? O premiê italiano Silvio Berlusconi detesta a imprensa livre e jornalistas independentes – a aversão é mútua – mas nesta mesma península italiana, mais precisamente na república de Veneza, surgiram no Renascimento as fogli ou foglietti d’avisi , também chamados de Notizie scritte , pre- cursores do que hoje chamamos de Globalização. Com 500 anos de antecedência as fro- tas venezianas, além de mercadorias, traziam e levavam notícias de e para os mais remotos entrepostos. Como já naquela época não se concebia a ideia de almoço grátis, essas folhas noticiosas tinham um preço – uma gazzetta, ínfima unidade monetária do século XVI. Supõe-se que Steve Jobs deteste Johannes Guttenberg, tantas são as maquinetas que inventa com o “i” antes do nome (iPhone, iPad, etc. etc.), todas destinadas a aposentar os feitos do seu rival alemão. Guttenberg bem que poderia colocar um “g” antes das suas modestas criações: a primeira foi o tipo móvel (uma letrinha de metal que poderia ser reutilizada infinitamente); pela ló- gica a segunda teria sido uma prensa especial onde imprimiria as páginas separadamente, a terceira foi uma tinta levemente oleosa que não escorreria no papel. Com este tripé começava a Galáxia Gutten- berg, que revolucionou a produção e multi- plicação do conhecimento para desgosto da Apple que precisou esperar cinco séculos antes de se aventurar no arriscado negócio de tornar os homens mais informados. Guttenberg é o herói de uma legião de pensadores, autores, visionários, tradutores, artistas, gravadores, papeleiros, impressores e livreiros, todos be- neficiários diretos das suas inovações. Quem soube registrar, organizar, atualizar, hierarquizar e periodizar a formidável massa de informações produzidas desde então foi uma categoria – ou bando – de doidos: os jornalistas. Você. Jovem, ou velho-jovem jornalista, você é um operário da história. Ou, se preferir, historiador com o pé no acelerador. Repare: recentemente comemoramos o Dia da Pátria, o Sete de Setembro. E embora não fosse uma data redonda (um 188 o aniversário é difícil de ler e festejar), a efeméride provocou alguma celeuma. Simplesmente porque resolvemos fazer algo que há muito deveria ter sido feito: compulsar os jornais da época. Felizmente, em 1822 havia em circulação cinco periódicos, todos muito atentos à mo- vimentação entre as duas capitais do Reino Unido: Lisboa e Rio de Janeiro. E nenhum deles menciona algum episódio ocorrido em Setembro ou o heroico brado retumbante às margens do Ipiranga, São Paulo, S. P. A única data à qual nossos coleguinhas estavam atentos estava marcada para 12 de Outubro: o “niver” do príncipe-regente, D. Pedro, ocasião em que seria proclamado im- perador do Brasil. Ao twittar o sete de se- tembro, você encontra- rá o Twitter oficial das Comemorações da Se- mana da Pátria.

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