Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 25 ALBERTO DINES Jornalista,autoreeditordo“ObservatóriodaImprensa”. Significa que fomos enganados por nossos professores de história? Não propriamente. O Sete de Setembro foi o que hoje clas- sificaríamos de factoide, fato construído três anos depois (1826), aliás, com grande habilidade e sofisticação, graças ao talento de José Bonifácio. A desconstrução do mito setembrino foi obra de historiadores, mas o encadeamento factual está nos registros de uma imprensa que, em- bora jovem, com apenas 14 anos de existência, mostrou-se à altura do momento. Imagino que agora você tentará twittar uma pergunta: por que não se tratou disso an- tes? Respondo: não é a primeira vez que se discute o Sete de Setembro, mas desta vez a discussão foi mais longe graças aos traba- lhos de investigação da historiadora Lourdes Lyra e ao comezinho recurso de recorrer à história da imprensa e, com ela, percorrer a história do país. Até 1808 era impossível saber o que diziam os jornais porque, no Brasil, a censura começou muito antes da imprensa. Naquele decantado ano, com a transferência da Corte para o Rio, fomos presenteados com três privilégios: a autorização para o funcionamento da pri- meira tipografia, o lançamento do primeiro periódico aqui impresso (“ Gazeta do Rio de Janeiro ”, bi-semanário oficial, chapa-branca), e o início da circulação do primeiro periódico sem censura (por isso impresso em Londres), o “ Correio Braziliense ”. Ao longo dos 510 anos de existência como ter- ritório identificado, colônia e, depois, nação, tivemos 300 de silêncio – 58%, para os cultores de números. Apenas 42% da nossa cronolo- gia – 210 anos – foram vividos em liberdade. Liberdade intermitente, diga-se, raramente plena, geralmente disfarçada. A simplificada estatística esconde um dos maiores desafios para o jovem jornalista brasileiro que é o de desvendar as razões da demora em aderirmos à Galáxia de Gutenberg. Sonhamos com a excelência jor- nalística, mas deixamos de lado o percurso para alcançá-la. Aqui e alhures. Discutimos as novas tecnologias, mas não prestamos atenção ao impacto que causaram as anteriores – a partir do estilete, passando pela pena de ganso, o lápis, a câmera fotográ- fica, o telégrafo, o transistor. Nossos políticos nos acostumaram ao eterno recomeço, devotam-se à estaca zero e à tabula rasa, mas nosso ramo é outro: jornalismo é continuidade, movimento, construção pro- gressiva. A religião do “Aqui & Agora” ignora a edição do dia seguinte. Portanto, questione, remexa, desencaveopassado do seuofício. Depois, devidamente instrumenta- doe consciente, gozeplenamente todas asdelícias dos gadgets de Steve Jobs. Do amigo cauteloso e otimista, A lberto D ines

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx