Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 33 privada, tenhaelafins lucrativosounão. Pretender envolver a empresademídia comumablindagem anticonflitode interesses éuma formadeneurose, aindaquebastanterecorrente.Órgãosdeimprensa têm paredes porosas – ou não são imprensa. A elas chegam e devem chegar todos os tipos de contradições que vicejam na sociedade. O que é possível fazer é administrar os conflitos, para que eles tenham vias regulares de solução, para que eles não se deem sem que o público (o cliente) se dê conta, ou seja, para que eles não ocorram às escondidas e não venham, com o tempo, a matar dehemorragiaaconfiançadopúblico. E, nãocusta insistir: esses conflitos não são duelos do vício contra a virtude, mas disputas entre interesses distintos, muitas vezes legítimos. Pois então: a melhor forma de administrá-los é pelo método “Igreja/Estado”. PARTE IV Lado a lado com o outro lado Mas esse método, hoje, admite variações. Bem mais do que se admitia antigamente. Pode-se separar a área comercial da área editorial de mil maneiras, assimcomo se pode fazer comque elas seaproximemdemilmaneirastambém,conforme o tipo de negócio e conforme o nível hierárquico (afinal de contas, na hierarquia organizacional, as duas funções precisam “fechar” em algum comando, que fará, simultaneamente, as vezes de “Papa”ede“Presidente”).NaParteVdesteartigo, logoadiante, falaremosumpoucomais sobre isso. Antes, convémrecuperar o que umdos principais estudosrecentessobrearealidadedasredaçõesnos EstadosUnidos temadizer sobre a atualidadedas relações entre a “Igreja” e o “Estado”. Na ediçãode 2007 de Elements of Journalism (New York: Three Rivers Press – Crown Publishing Group, Random House), Bill Kovach e Tom Ro- senstiel alertam para que a convivência difícil entre “Igreja” e “Estado” nos tempos que correm poderia ser, por assimdizer, “civilizada”. Eles não insinuam, nemde longe, queo compromisso com o interesse público deva ser relativizado. Susten- tam que o jornalismo crítico e independente não pode permitir que interesses comerciais poluama relação de confiança entre a redação e o público. Coerentemente,defendemqueosvaloresdojorna- lismo independente, e somente eles, é que devem nortearacondutadetodasasáreasdaorganização. Ainda que as equipes comerciais e editoriais não semisturemnodia-a-dia, tantoumaquantooutra deveriam se pautar pelos mesmos princípios. Os critérios que devemdecidir os impasses são crité- rios editoriais, não critérios de negócios. Ora,masissonãopassadetautologia,diráalguém. Em princípio, é verdade, parece mesmo uma tautologia, conveniente para quem quer escapar ao debate. Afinal de contas, se o negócio das empresas de jornalismo (que têm, entre outros, veículos jornalísticos) éonegóciodebeminformar opúblico, omelhor critérioparaonegócio sópode ser mesmo o critério editorial – e omelhor critério paraoeditorial sópode ser a saúdedonegócio, em basesdeintegridadeecredibilidade,naturalmente. Portanto, o critério editorial é igual ao critério de negócio.Nadamais tautológico.Mashá sabedoria na formulação de Kovach e Rosenstiel. Basta lê-la commais atenção. Os jornalistas da “Igreja” não eram exatamente santos. Esgueiravam-se como ratos nomeiodo li- xopara criar as bases do que depois entraria para a história como o yellow journalism (“jornalismo marrom”).
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