Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 36 nas“reportagensfotográficas”nãoestãoaliporque a celebridade realmente gosta deles, mas porque pagaram pela exposição? E, mais importante: o leitor concorda com esse expediente comercial? Bem, se ele sabe ou não, não sabemos. A dúvida ainda persistirá. Mas – e isso é indiscutível – o pacto que as revistas de celebridade propõem ao leitor não é um pacto de fiscalizar o poder, mas o de colocá-lo, a ele, leitor,mais próximodas atrizes, manequins e galãs que ele gosta de ver. Disso, o leitor sabe muito bem. Ele quer ter isso – e o resto nãolhepareceserdemasiadamenterelevante.Essa é a promessa que ele recebe – e essa promessa é cumprida. Nesse sentido, a “cobertura” que essas revistas entregamaeleéo registrodeumaespécie de programa de auditório expandido. Elas não realizam reportagens a respeito dos fatos postos novastomundo;elasapenasorganizamemontam as cenas, cenas produzidas no pequeno mundo de seu espetáculo particular, e depois divulgam essas cenas em suas páginas. Em suma, esse pacto com o leitor é respeitado. Mas, outra vez, é o caso de perguntar: isso será claropara todosos envolvidos?Será, aliás, que isso é claro para os jornalistas que lá trabalhameseveemcomo jornalistas, não como entertainers ? Leitores e jornalistas sabemo jogo que são convidados a jogar? Ointeressante, ou, dependendodopontodevista, o embaraçoso é que, se formos embarcar nessa lógica, outras complicações logo vão aparecer. Como definir com segurança onde termina o jornalismo e onde começa o “entretenimento”? É possível enxergar a fronteira? Jornais diários publicamquadrinhosehoróscopo,alémdecontos, eventualmente: eles então fazementretenimento? Se fazem, porquepreservar,neles, a fronteiraentre “Igreja” e “Estado”? Sim,essaperguntaéfácil;opesodoentretenimen- tonosdiários impressosémínimo.Masnãoperca- mos de vista que sempre há elementos estéticos e atérecursosficcionaisnosórgãosjornalísticos.Não há como pensar no jornalismo puríssimo ou no entretenimento puríssimo. Entre o jornal sisudo e as revistasdecelebridades, surgemoscasosmenos óbvios – e mais desafiadores. Oquedizerdas coberturasesportivasna televisão, como os campeonatos de futebol, a Fórmula 1 ou a Fórmula Indy? Para transmitir uma Copa do Mundo, a emissora compra os direitos. Por meio dessacontratação, elaseassociaaospromotoresdo evento, virando parte interessada do êxito comer- cial desse evento. Ela não vai cobri-lo coma típica voracidade de jornalismo investigativo, tanto que não costuma informar aos telespectadores nem mesmoovalorpagopelosdireitosde transmissão. Por essas e outras, na televisão, o esporte é um híbrido: é jornalismo, em parte, mas também é entretenimento.Nessecampo(defutebol),asfron- teiras entre o jornalismo e a publicidade são bem mais sinuosas do que eram nos tempos da Time deHenry Luce. Os anúncios invademo gramado, seja pelos tablados nas laterais, seja nas inserções eletrônicas, feitas na base de computação gráfica. Temos aí, também, outro tipo de mescla entre jornalismo e promoção de eventos, cujas linhas divisórias se apagam com facilidade. Onde está a “Igreja”eondeestáo“Estado”quando“abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”?
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx